Vou aproveitar que,
aparentemente, o mundo virá abaixo com ventos vergastando os rios, lagos, mares
e terra e embarcarei naquele navio que posso ver balançar logo ali, depois da
arrebentação, parecendo ancorado a me aguardar. Posso vê-lo balançando entre
grandes ondas, se divertindo como uma criança no sobe desce da maré bravia.
Agora, assim de repente, além de ter esta visão apocalíptica do oceano, entre
um trovão e outro, um relâmpago que ilumina céu e terra ele parece clamar por
mim com sua voz cavernosa.
Aceitei o convite porque aqui
de longe me apaixonei pelo modo turbulento em que este navio se equilibra em
uma tempestade selvagem. Vou lá experimentar como devo me comportar quando no
sobe e desce das ondas eu for arremessada ao alto, correndo o risco de ser
enviada para qualquer lugar do convés, podendo já na primeira investida, ouvir
de longe “homem ao mar”, ou posicionada com pompa e circunstância ao lado do
marujo de dois metros e braço forte que resolve aparar meu pulo de pernas para
o ar.
Talvez eu me enrede entre as
cordas desta teia de intrincado manuseio que perpassa o imenso barco, marcando
por onde as águas fluirão por todos os lados dando a oportunidade perfeita para
o treino de resistência, de corpo e mente, da marujada em sua ginga peculiar e
corajosa, mesmo quando o estômago parece ter vida própria.
De minha parte percebi que a
escolha deste teste veio bem a calhar, variando a minha tarefa de aprendizado
enfrentando a água gelada, altas vagas, aprendendo a trilhar na intrincada
esteira de cordas que singelamente me conduz com segurança de bordo a estibordo
experimentando a direção indômita de quem navega por mares bravios, por aqui,
por ali, em qualquer lugar.
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