domingo, 18 de maio de 2025

Caluda

 


Tenho a nítida impressão que o que busca meu olhar sempre é o antigo, o vazio, o limpo, o muito pouco para enxergar e muito para pensar. Por ora, aparentemente ando assim na vida, ora me debruço em uma janela e me evado dali com tanta alegria que me enxergo sobrevoando o entorno, aspirando todo ar que se apresenta a mim, sem me sufocar, limpando minhas entranhas, oxigenando o cérebro que avisa que podemos iniciar uma nova rodada, acredito que seja do que for, por estar em mim aquele modo teimoso em franca expansão.

Sigo na busca do vazio por ser ele quem me preenche, quem assopra para onde me dirigir no dia, se migro por aquele caminho espinhoso, se dou asas aos pés, se enveredo por uma caminhada limpa e lisa, se atravesso as ondas pequenas que vem beijar meus pés na beira marítima.

A amplidão do espaço toma conta do meu pensamento que se recusa a colocar todas as letras no papel que não existe mais deixando as laudas em branco, atônitas. Meus dedos estão inanimados e assim o teclado, que apanha dia sim e outro também, vai gostar de um pouco de pó a lhe sombrear.

Decidi que hoje usarei a voz para competir com o vento e testar minha verve em uma gravação sem um rascunho para seguir, copiando do coração as palavras assopradas. Vou altear a voz, descrever situações, rir um pouco, chorar outro tanto e derramar algumas lágrimas entre as mãos. O sujeito de hoje – o gravador – vai registrar este improviso que, ao seu término, por um descuido, não salvei. Caluda.

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