Tenho a nítida impressão que o
que busca meu olhar sempre é o antigo, o vazio, o limpo, o muito pouco para
enxergar e muito para pensar. Por ora, aparentemente ando assim na vida, ora me
debruço em uma janela e me evado dali com tanta alegria que me enxergo
sobrevoando o entorno, aspirando todo ar que se apresenta a mim, sem me
sufocar, limpando minhas entranhas, oxigenando o cérebro que avisa que podemos
iniciar uma nova rodada, acredito que seja do que for, por estar em mim aquele
modo teimoso em franca expansão.
Sigo na busca do vazio por ser
ele quem me preenche, quem assopra para onde me dirigir no dia, se migro por
aquele caminho espinhoso, se dou asas aos pés, se enveredo por uma caminhada
limpa e lisa, se atravesso as ondas pequenas que vem beijar meus pés na beira
marítima.
A amplidão do espaço toma
conta do meu pensamento que se recusa a colocar todas as letras no papel que
não existe mais deixando as laudas em branco, atônitas. Meus dedos estão
inanimados e assim o teclado, que apanha dia sim e outro também, vai gostar de
um pouco de pó a lhe sombrear.
Decidi que hoje usarei a voz
para competir com o vento e testar minha verve em uma gravação sem um rascunho
para seguir, copiando do coração as palavras assopradas. Vou altear a voz,
descrever situações, rir um pouco, chorar outro tanto e derramar algumas
lágrimas entre as mãos. O sujeito de hoje – o gravador – vai registrar este
improviso que, ao seu término, por um descuido, não salvei. Caluda.
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