Fiquei em dúvida se eu estava
no lugar certo de todo dia, se esta era a minha casa, se a cama quentinha da
qual eu havia me evadido era mesmo a minha, se a escuridão lá fora estava de
acordo com o relógio de parede que realçava ser muito, mas muito cedo, como de
costume. Me voltei para a rua escura e lá estavam as corujas de partida após
seu passeio noturno no bairro, a cachorrada bocejava, os primeiros pedreiros
chegavam em alarido. Sim, era a minha casa de verdade neste dia inquieto o qual
algo me causava estranheza.
Levemente incomodada iniciei
una pesquisa mental para encontrar o motivo ou a variante surgida em algum
momento do dia anterior que se interpôs entre a minha realidade e a influência,
intencional ou não, que tenha atravessado meu caminho.
Com uma rapidez supersônica o
primeiro episódio apareceu revestido de um encontro saudável, diário e comum
quando com uma sutileza inequívoca surgiu a atitude que descombinava com tudo
que sempre acontecia nestes dias específicos, deixando a mim uma clara
impressão de desacato frio e calculado, com cara de acaso, não havendo a menor
chance de ser merecido. Resolvi que se faz necessário cautela no que acontece
ao redor, mesmo que seja trivial e diário.
Balancei a cabeça e voltei à
estaca zero do dia, mas quis o destino me mostrar que o falatório tem muitos
lados e as vezes se envereda como uma cortina transparente que surge de forma
disfarçada, escondendo a má intenção. Parecia, naquele momento que o córrego
não suportava em si o que lhe tinham jogado a carregar e a cada minuto mais
disparates aconteciam.
Apenas no meu olhar se
avistava o umbral blindado da minha casa e assim, no passo a passo e com certa
parcimônia, olhando para todos os lados, elevei meu pensamento e aceitei o convite das
lindas nuvens róseas que flanavam leves no horizonte do mar, sempre de prontidão para aclarar
a mente, me entender, e me resgatar, mais uma vez. Amanhã é outro dia com um
amanhecer menos ruidoso e, quem sabe, mais surdo.
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