quinta-feira, 17 de abril de 2025

Falatório

 


Quase sempre é lá em cima, além dos olhos, da nuca, dos muros, das nuvens quando sobe em escalada vertiginosa todo o falatório real e imaginário, recente ou antigo, que atravessa os satélites como um risco, parecendo que aquelas palavras tem de atingir seu alvo de qualquer modo. O vento forte do passado anda cruzando o céu e com este vai não volta se enreda em mil consoantes, esquecendo, ou deixando para trás de propósito, as vogais com a clara intenção de desestabilizar o que ruge em todos os cantos.

Não é necessário adensar o propósito, que pelo volume se esfarela dentro de si e faz chover em mil pedaços frases de variado naipe, alinhavando como se fosse um truque antigo a realidade e o falso.

Assim se move o tempo de hoje, onde muitos morrem de saudades do tempo antigo, mas, sem ousar relatar que o par e passo era reverenciado por velhos e moços, que a cautela e o caldo de galinha era oferecido em todas as contendas e o deixa pra lá vinha com a oferta de um abraço bem apertado, tapinha nas costas, sorriso de orelha a orelha cobrindo uma face sempre sincera.

Tempo este em que os carros se misturavam com as carroças, cavaleiros tiravam o chapéu para as senhoras e senhoritas, as bicicletas circulavam em alegre arruaça, motocicletas no ziguezague da fumaça junto aos pedestres que andavam com cuidado e atenção para não perder a hora nem o passo. Agora  se diz e se faz tarde demais.

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