O dia chora desesperado, ora com altos soluços, ora mansamente como que pedindo perdão pelo excesso, pela falta de cuidado do vento que açoita dia e noite as entranhas do lugar, que por ser próximo ao mar se encharca com mais pressa deixando para trás um rio de dúvida.
Uma profunda emoção tomou
conta de mim e deste jeito mais intempestivo do que o normal sai a coletar
pequenos bilhetes de cores variadas para poder compor um passo a passo do que
anda acontecendo nas cercanias da minha alma que está sempre sôfrega de relatar
ou delatar o que o universo anda conjurando ao meu redor, sempre tão expressivo
em suas falas silenciosas e metafóricas me levando com ímpeto a confabular com
tudo o que se apresenta.
Abri de par em par uma corda
com os supostos recados caprichosamente um ao lado do outro, todos em branco.
Esperava eu que abandonados a sua própria sorte, sem nenhuma missiva gravada os
deixasse dispersos e distraídos a respeito do que eu poderia historiar neste
dia perverso e de mau humor do tempo.
E assim expostos à minha mira
comecei a tratar cada bilhete como um recado em separado para diferentes cores,
assuntos, temas, lugares, tudo o que melhor representasse este meu momento em
especial e justamente neste dia aguado.
A primeira frase me veio da cor
laranja porque a nuance sempre remete ao nascer e por do sol neste meu
quadrante, trazendo a boa noticia que no dia seguinte ao abrir os olhos ele
estará lá, de novo e todo dia da mesma cor. Ao nascer e ao se pôr.
A cor ensombrecida e desmaiada
remete ao vacilo da mente que ora se aquieta e se recolhe, ora se lamenta em
branco sem saber nem porque, ora levita em ascensão ao céu puro e límpido
fazendo uma viagem de repouso por seu sofrimento e dor do mundo refletida nas
pequenas cartas, as vezes grafada, outras sem recado, muitas sem sentido.
Um comentário:
Lindo! O dia a dia refletido nas doces palavras e nos mostra o quanto é importante refletir e aceitar o que a Vida nos oferece. Amei. Amélia Flores Vega
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