Coloquei o pé na rua, olhei
para um lado e para outro, olhei de novo e de novo e novamente e não encontrei
uma pessoa sequer para dar meu bom dia, afinal, imaginava que a partir da porta
da minha casa para rua a existência corria igual ao que sempre fora, a não ser
que a noite escura tenha vindo abordar sorrateiramente o meu modo de discernir
o mundo de hoje e viver a vida.
Vida essa que neste dia
iniciava com a luz do sol a pleno, o trem apitava com fôlego, o padre chamava
os fiéis com o valsear do sino, os namorados arrulhavam pelos muros, as crianças
corriam atrás de uma bola ou ziguezagueavam em suas bicicletas e as avós colocavam
seus aventais ensaiando com a vizinhança seus falatórios do dia.
Percebi que esta era apenas a
imagem do meu cotidiano que insistia em tomar conta do meu espírito talvez
porque não era mais possível andarilhar por entre desumanos sequestrados dos
seus sentidos mais básicos de convivência, de perfis emoldurados como bonecos
de cera que seguem como autômatos teleguiados por ondas eletromagnéticas, não
tomando ciência se existe algo importante além deles mesmo mergulhados em múltiplas
telas com formatos diferentes para si ou para ninguém do outro lado.
Com assombro ingênuo caí em
mim da realidade caricata que circundava os lugares, os mais variados, os mais
populares, os mais ermos, enfim, a vida como ela era acabou de ser sequestrada por
seus próprios protagonistas.
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