sábado, 21 de setembro de 2024

Adeus

 

Tem um tempo de partir, de subir no velho caminhão, lançar um olhar de esguelha para quem fica e tomar novo rumo, de preferência sem saber o destino escolhendo um dia atrás do outro para estabelecer novas rotas ficando de olho no sol que aponta luz e sombra a cada hora e deste jeito bem natural a viagem se estabelece para algum ou nenhum lugar.

Levantando poeira, sacolejando entre pedregulhos, estacionando no meio fio, aguardando que o trovão ribombe e a chuva caia a viagem do adeus vai tomando forma mesmo que ela tenha acontecido sem aviso prévio surgindo em algum momento não bem identificado. O viajante não faz caso se não há motivo, roteiro e muito menos destino agendado.

A bagagem que lota a caçamba da velha camionete é composta por artigos que já não fazem sentido em tempos de agora, de preciosidades que perderam o seu valor no decorrer dos anos, de afeição exagerada a objetos, de apego incondicional para o que já não faz parte do cotidiano. O velho motor parou de roncar alto ressoando macio uma vez que a carga foi deixada para trás com um adeus agradecido.

Na contrapartida, a cada amanhecer renasce os novos sentimentos, palavras nunca ditas surgem alinhadas, sons nunca reparados reverberam no espaço, pessoas indistintas fazem parte do cenário, vozes importantes se proliferam e devagar, em qualquer lugar, o presente toma novo formato.

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