Tem um tempo de partir, de
subir no velho caminhão, lançar um olhar de esguelha para quem fica e tomar
novo rumo, de preferência sem saber o destino escolhendo um dia atrás do outro
para estabelecer novas rotas ficando de olho no sol que aponta luz e sombra a
cada hora e deste jeito bem natural a viagem se estabelece para algum ou nenhum
lugar.
Levantando poeira, sacolejando
entre pedregulhos, estacionando no meio fio, aguardando que o trovão ribombe e
a chuva caia a viagem do adeus vai tomando forma mesmo que ela tenha acontecido
sem aviso prévio surgindo em algum momento não bem identificado. O viajante não
faz caso se não há motivo, roteiro e muito menos destino agendado.
A bagagem que lota a caçamba
da velha camionete é composta por artigos que já não fazem sentido em tempos de
agora, de preciosidades que perderam o seu valor no decorrer dos anos, de afeição
exagerada a objetos, de apego incondicional para o que já não faz parte do
cotidiano. O velho motor parou de roncar alto ressoando macio uma vez que a
carga foi deixada para trás com um adeus agradecido.
Na contrapartida, a cada
amanhecer renasce os novos sentimentos, palavras nunca ditas surgem alinhadas,
sons nunca reparados reverberam no espaço, pessoas indistintas fazem parte do
cenário, vozes importantes se proliferam e devagar, em qualquer lugar, o
presente toma novo formato.
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