Estanquei o passo ao me
defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava
com o que havia na minha memória, a começar pelo traçado de paralelepípedo mais
irregular e solto, o inço grassava no
entorno da calçada e quase não havia passantes, nem bola jogada, nem gritaria de
criança, latido de cachorro, rotina de ambulantes. Nada, absolutamente nada
havia ali que lembrasse o trajeto do qual eu havia, no passado, circulado tantas
e tantas vezes em um esperançoso vai e volta.
Firmei o passo e o olhar
procurando traços do que havia em mim sobre aquele caminho em particular e assim,
comecei a pensar que a passagem deteriorada pode ser resultado destes últimos tempos
em que andei solta por aí, perdida em pensamentos, olhando para todos os lados
e para lado nenhum, divagando em conceitos, diminuindo certezas, duvidando aqui
e ali de muito ou de nada. Irrelevância parecia estar palmilhando a estrada e o
resultado da mente vagante determinou o motivo do trecho estagnado.
Pensei em voltar a fita da
vida e restaurar o rumo antigo. Iniciei levantando os olhos frente ao mar,
depois deixei que o vento me indicasse qual lado da rua escolher, na sequencia
firmei minha alma no propósito de alcançar as
crenças antigas e tão caras para mim que, por qualquer motivo, se
achavam cobertas por um véu. Segui firme no restauro da rua antiga arrancando
com firmeza tudo o que atravancava a calçada, chamei os ambulantes, as crianças,
cachorros e gatos que dali haviam partido e todos retomaram o espaço
alegremente. A breve excursão para dentro de mim reativou um tempo bom daquela
rua da minha vida.