domingo, 16 de outubro de 2022

Um passeio diferente

Invernei com toda a pompa e circunstância que o clima praiano dos pampas me oferece e a ele me entreguei de corpo e alma sem delongas, sem perguntar, sem pedir licença, sem questionar se estava correto me entregar a este lado da vida em que tudo morre aparentemente. Apenas aparentemente. Desta decisão ao fato foi um pulo e deste jeito airoso me joguei para debaixo das mantas quentinhas, dos cachecóis, dos gorros, das pantufas, dos caldos quentes, do pão, do vinho, da massa, da pizza, do engorda voluntário. 

Imediatamente imaginei que a minha alma também teria um destino semelhante e quedaria quieta por um tempo, calada para perguntas, muda para respostas quaisquer além dos ouvidos moucos ao que se passa inefável por aí, com certo desdouro mais perto e inaudível a ouvidos senis mais longe. 

Cuidei para lacrar na minha mente toda e qualquer fresta que tivesse autonomia de entrar sem que eu permitisse e assim me fui de vento em pompa com o meu pensamento livre subindo e descendo novas escarpas, desbravando assuntos novos, lendo letras desconhecidas e encontrando almas gêmeas que considerei um presente desta hora em que invernei o meu espirito. 

Foi através deste caminho palmilhado pela busca do desconhecido que encontrei livros novos para ler e, mais do que isso, tirei a poeira da estante que carrego por toda minha vida como se fossem preciosidades e na verdade são. Não ouso tirá-los da minha vista, mesmo que os relegue muitas vezes ao ostracismo e eles já beirem o tom sépia pintado pelo tempo assim como eu. 

Depois de haver percorrido este caminho do tempo para frente e para trás encontrei muitos trechos dos meus livros grifados com firmeza me surpreendendo que estes destaques de 40 anos atrás continuem fazendo parte de mim, agora com trechos lavado em lágrimas.

Nenhum comentário:

Papelaria em dois tempos

  Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembr...