sexta-feira, 8 de abril de 2022

Um pão e quinquilharias

 

Neste dia longínquo e solitário onde a rua parece natureza morta vem bem a calhar um passeio por aí carregando na bagagem apenas um pão e uma bolsa velha com quinquilharias que serão examinadas com lupa na hora da parada embaixo de uma velha ponte em desuso, um riacho na beira da estrada, um tronco de árvore caída de cansaço de tão fustigada pela natureza. Vai assim me parecendo que o passeio veio em boa hora, porque ao repassar um velho caminho o barulho das rodas da bicicleta no cascalho são musica para meus ouvidos moucos para muita coisa. 

Na primeira curva surgida fui fechada por lembranças tão antigas que ficou fácil me largar ao chão e buscar dentro do velho alforje alguma prova concreta que me remetesse de verdade ao antigo, ao memorável, ao já vivido e que a passagem do tempo deixou por aí como se de nada valesse. 

Encontrei no fundo das quinquilharias um caderno com páginas amareladas e completamente vazio de escrita. Rescindia a papel velho, mofado e por este motivo imaginei que ali ficou jogado por não ter sido valorizada a palavra escrita em tempos mais remotos. Pode ter havido um “branco” criativo que relegou este receptor de ideias sem vida. 

Alimentei-me com aquele pão sagrado que levei na garupa sentindo um pouco o gosto de vida e animação que percorreu meu corpo já cansado, evidentemente, pois aventuras deste quilate já não é mais minha prioridade, mas, tenho uma desconfiança que é apenas um movimento atávico que me assalta e me empurra para a aventura do dia. 

De curva em curva cheguei ao fim da estrada onde resolvi me arranchar e debulhar a traquitana da bolsa abarrotada que decidi, de ultima hora, dar uma carona, talvez para me prover de distração enquanto as pedras do caminho me atrapalhavam. 

Ao olhar para trás eu vi a estradinha serpenteada de curvas me desafiando para voltar ao destino inicial e com certa ironia não arrematei o conteúdo e fiz o caminho de volta agradecendo a natureza calma do dia que me empurrou com sua brisa pelo caminho que agora parecia pavimentado e tranquilo sem a caroneira. Achei engraçado que a vinda foi recheada de percalços e pedregulhos e o retorno foi inusitado e tranquilo.

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