Talvez seja tarde demais para pensar em voltar atrás, olhar com paciência sobre o ombro para a trilha mais escura do caminho, de fazer uma ou outra revisão da passagem lembrada, inclusive aquela relegada ao canto escuro da memória, guardada a sete chaves em caixa forte de prata, outra jogada no lixo da história antiga e talvez algumas poucas que são o restolho da rotina recente. Entretanto, pode ser que do jeito que o tempo voa o clima instável tenha varrido da face da terra inóspita da alma tudo o que foi relevante.
Fico na dúvida se devo mergulhar na escuridão esperando que eu mesma trouxesse à luz o que foi perdido que, por algum motivo propositalmente foi afastado por não sintonizar nenhuma farpa de serventia naquele momento e se assim o foi, estarei traindo a minha própria decisão.
Um tempo remoto está enredado em uma teia supérflua de fatos que se embaraça e demonstra apenas a fragilidade da aparente firmeza com que se apresenta, gerando um temor no desejo de destrinchar o emaranhado. A imersão no denso embrulho da vida pode ser vital para a recuperação do tempo perdido, pode significar uma cura de ferida que não cicatriza, pode alegrar um dia triste, pode ser o fim de uma grande dúvida que era preservada como segredo.
Ao mergulhar no mistério
profundo da mente surge um brilho que se espalha mais intensamente em alguns
pontos, como se fossem vagalumes perambulando na mata escura, apontando este ou
aquele caminho mais afeito a ser lembrado, aquele momento que ficou escondido
por conta da pressa em queimar etapa, àquela hora de insegurança para avizinhar-se
de não se sabe bem do que. Emergir da escuridão salva a intenção de viver o dia
a dia mais íntegro e sem mistério.