quinta-feira, 24 de março de 2022

Coração sem luz

 

Revolvendo papéis, alguns inutilmente guardados, amarelado pelo tempo, amarfanhado, alguns solenemente manchados de lágrima e na sequencia alisado com pudor sendo dobrado com cuidado por aparente arrependimento, quiçá de um tempo que não volta mais ou de alguém que se foi para sempre ou se distraiu e errou a trilha, deixando um rastro de tristeza e secura na alma. 

O certo é que estavam ali, na minha frente, neste cofre antigo de madeira e com uma chave inútil que mais parecia um enfeite medieval do que propriamente uma tranca. Foi com esta surpresa encaixotada há algum tempo que me deparei com aparente segredo guardado que, de tanto tempo empilhado demonstrava claramente que a obscuridade do tempo o contaminou deixando a pilha misteriosa inerte e sem vida. 

Fui fazendo com cuidado uma seleção do que aparecia ali tentando descobrir qual o sentido de terem sido abandonados à própria sorte e ficado sem uma réstia de luz que mantivesse um mínimo de energia para armazenar com dignidade lembranças que ali foram depositadas, mas, esquecidas, se tornando agora inerte parecendo um coração metálico e sem sentido. 

Remexendo um pouco mais surgiu do fundo da pilha inglória um bilhete que foi conservado em formato de um coração e sua cor estava em vermelho vivo parecendo então que ali poderia haver resquício de experiências que independente do tempo passado se cristalizaram como um fio de esperança deixando o restante do acervo com um reflexo de vida pulsando.

Um comentário:

m.reginasouza68@gmail.com disse...

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