Deparei-me com aquela casa
antiga em que habitei em minha juventude, na rua que ora se encontra envelhecida
e muito bem assentada no espaço esquecido por Deus onde se estabelecera um
diálogo rotineiro que funcionava como belo diapasão do bairro, parecendo que
entre ruas, becos e vielas o ar era ameno, calmo e convidativo a uma pequena
prosa na calçada, um tempo lúdico para risadas e roda de amigos ali em perfeita
comunhão.
Estanquei o passo ali mesmo para poder usufruir da lembrança que de tão antiga se tornou nova em folha na minha mente, uma vez que por entre portas e janelas havia uma sensação de momento presente, terno, lúdico, inocente fazendo com que o passado possa surgir de roupa nova, como um milagre. A visão parecia estancada no tempo como se alguém houvesse ordenado um “Mandrake” e tudo remete ao que sempre foi, talvez, com um leve tom sépia como pano de fundo para o avanço da prestimosa hera e erva daninha.
A casa parecia um organismo animado, com vida própria após este enredo tramado pela natureza com precisão, se entrincheirando na porteira principal deixando a casa figurar agora como uma estampa na mente de quem havia penetrado em seus cômodos com a ligeireza da mocidade.
Afastei-me para poder
observar melhor o entorno e descobri que as residências próximas, a calçada, a
rua, o tronco das árvores faziam parte do orquestramento do lugar que
envelheceu em conjunto, que deixou aparente sua ferida, que buscou se igualar
na temperança que o tempo fornece em sua lenta passagem. Devagar dei uma olhada
derradeira para aquela fachada tramada e cadeada com resoluta paciência pela
vegetação deslumbrante, apressei o passo e me afastei deixando que o tempo amainasse
o rigor da minha memória naquele momento.
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