sábado, 26 de junho de 2021

Sopa de letrinhas

Decidi fazer a dieta da sopa de letrinhas onde as vou misturar no caldo que mais me aprouver ou que me aparecer, porém acredito firmemente que assim como as letras este molho terá temperos outros que não o verbo, a vírgula, o ponto ou o que mais a língua e o alfabeto possam me oferecer. Vou navegar na ilusão de que poderei me aproveitar de todas as letras disponíveis para desencapar o que anda por aqui, rastreando pelo chão e pelas entranhas dos cabos invisíveis do tudo e por tudo e para tudo. 

O sítio morador evolui para trás e não tenho mais conseguido guardar em mim todo o necessário para seguir em frente cantando a pena no papel ou desenhar a frase cursiva automática expondo o que melhor me aprouver seja de alegria tristeza ou dúvida porque o que surge extemporaneamente são as lembranças impertinentes que sobrevoam o telhado da minha imaginação e que me desacomodam na cadeira. 

Decidi de modo mais instantâneo que vou temperar o ragu letrado com os ingredientes que me surgirem de súbito e que de certo modo andam guardados na memória que teima em revela-los a todo o momento mesmo que eu os descarte com prontidão de intenção. Na verdade os componentes da receita sempre aparecem quando não há mais o que fazer, quando a esperança se escondeu nos cômoros praianos, a alegria do sol se aparelhou junto às nuvens e faz dela seu abrigo, a lua continua correndo para lá e cá igualmente disfarçada dando a entender que não quer mais iluminar nem os namorados, que tomaram chá de sumiço. Joguei tudo no tabuleiro da razão e deixei que se arrumassem sozinhas, sem ajuda, sem amor nem paixão e, obviamente, sem nenhuma surpresa as vi desacomodadas e confusas se misturando na demanda da incompreensão que anda ventando forte pelos quatro quadrantes.

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