Lancei-me a passos largos em direção nenhuma apenas com o propósito de me evadir de mim, deixar para trás minha carcaça moída de ossos cansados que ainda se conjugam, mas de certo modo se atrapalhando no contexto, mas, depois de ensejados a prosseguir não há o que os faça estancar. Pois os deixei para trás e sai por ai em desabalada carreira apenas com meu pensamento ativo e foi como se eu houvesse saído do corpo com tanta fluidez que se amornou a minha alma, meu presente e quiçá meu futuro.
Tive que fazer isso pelo deleite de me soltar das amarras invisíveis que vão dopando a circulação e a liberdade de andar solta, imaginativa e curiosa dobrando em todas as esquinas em voos rasantes buscando sempre aqui e ali as respostas que andam demorando muito para aterrissar, primeiramente em mim e depois no papel.
E foi num destes voos rasantes que fiz a escolha do dia e sem pensar muito levei para casa tudo o que consegui no arresto da rua e deste modo vieram comigo o sorriso do vizinho, a peraltice das crianças em brincadeiras de rua, o quitandeiro em curioso debate com seus clientes, o idoso que ao não poder andar na bicicleta enferrujadíssima a empurra dando a impressão que está apenas descansando do ruim calçamento em que poderia ou desejaria trilhar,
Recolhi a conversa animada das vizinhas na beira da calçada, o cachorro de rua em animada carreira atrás do que não tem a menor importância, varri com o pensamento as folhas amareladas do inverno que plenamente soltas vão e vem entre ruas e calçadas e acabei me deparando com as flores do valão, a beira mar invernosa limpa e feliz e a chuva lavando e levando tudo por onde passa.
Cheguei de volta deste passeio
acelerado tensa em recuperar minha ossada que ficou inerte em um canto da casa
a minha espera. Nem pensei que iria me alegrar com este encontro, mas depois de
um pouco de tempo, tudo se reintegrou satisfatoriamente e corpo e alma
resolveram andar juntos e bem mais devagar.