O dia amanheceu muito calmo e por este motivo aquela prece amorosa ainda ali se encontrava, largada pelo seu objeto e esquecida pelo seu autor, que talvez não a tenha remetido e por qualquer motivo largou ao vento da noite anterior para que o mar fizesse o trabalho de levar para longe aquele engano, aquele ato intempestivo declaratório que Lili poderia ter suspeitado que não teria a recepção ou a guarida no coração do moço.
Ali estava o bilhete
composto com o capricho da letra feminina jogado com tal maestria na areia da
praia, com pisadas relutantes ao seu redor como se humanos e animais respeitassem
aquela cartinha colorida, banhada pelo sol e a mercê de olhares curiosos na leitura
do conteúdo. Quem sabe Lili o levava para onde ia e mostrava para quem quer que
fosse de seus amigos e indagava sobre a dúvida da entrega ou não ao moço amado,
mesmo que a data comemorada já fosse parte do passado. E assim a poesia e o mistério
das areias praianas de inverno se instalam sutilmente.
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