terça-feira, 6 de abril de 2021

A seu tempo

  

Sem nenhum assombro debrucei-me nos tantos assuntos que se ofereciam a mim como se fosse eu a única que poderia deslindar o que houvesse, e, deste jeito bem confuso comecei a vasculhar o que poderia haver de tão mais importante do que eu ficar a deriva e a mercê de um tempinho só para mim, hábito maravilhoso, um dos muitos que eu adquiri neste meu desterro natural nas cercanias do oceano. 

Com alegria de criança parti para examinar a luz que pairava sobre a cidade esvaziada e assim pude perceber que nas ruas e calçadas com pouco movimento ou nenhum surgia alegremente a flor do campo, a macega, o inço, o carrapato que com pertinaz atitude retomava seu lugar ao sol. Assim verdejaram os passeios e as ruas que concordaram com o silêncio imperioso ativando ainda mais seu vão entre as pedras que já se aprumava para receber a vestimenta de inverno: o delicioso e bem vindo musgo. 

Feita esta checagem junto à natureza apurei o ouvido e me dei conta que o Silêncio decidiu aportar nos arredores deixando que apenas a bicharada se manifestasse havendo certa caluda nas conversas vazias, motivo pelo qual me enredei mais a cuidar para que não se propagasse o falatório mambembe, a gritaria e os modos de verão que permeia as ruas, as calçadas invadindo o valha-me Deus. Assentei-me com vagar para os assuntos que a mim vieram pedir ajuda e me dei por satisfeita rumando por entre as folhas caídas para a beira do mar onde a bicharada residente igualmente ocupou a sua morada de origem com o destino acertando tudo a seu tempo.

 

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