domingo, 28 de março de 2021

Lembrar para esquecer

A trilha que surgiu em minha frente era feita de pedrinhas de brilhante me chamando a atenção espalhafatosa para o que eu poderia, ou deveria encontrar, assim que colocasse meu pé no caminho luminoso e impecável. Apurei meus sentidos e foquei naquela aparição auspiciosa uma vez que meus calcanhares andam para sempre metidos nas areias e conchas da beira mar e ter à frente um convite ladrilhado era por demais tentador enveredar por ali. 

De mansinho, como quem não quer nada e com algum receio de pisotear tanto asseio no lugar, resolvi detalhar o que me aparecia sob esta luz radiante apontada com grande estardalhaço e não me arrependi pelo entusiasmo porque ali estavam encapsuladas de cristal as melhores lembranças que eu poderia imaginar e com esta surpresa, voltei no caminho para não macular o que tão bem havia sido guardado na minha mente. 

Na volta me interessei em saber o que havia sido ocultado de mim neste surpreendente acontecimento vindo de alhures da minha alma se postando frente a mim, me desafiando a perscrutar o que havia para lembrar para depois esquecer. Os encaixes perfeitos do acarpeto estava construído por uma massa disforme espremida entre os fatos e os unia de maneira muito fortuita e quase invisível, porém, o meu olhar interno que não arrefece de modo algum sentiu que havia por ali uma armadilha demonstrando de modo fingido que ali se consagrava o caminho da luz.  Esqueci-me de lembrar que para que houvesse a construção de um caminho de pedrinhas de brilhante foi usada muita lama, muita terra, muito pedregulho, muito inço muito bem temperado com lagrima e sorriso invertido.

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