domingo, 27 de dezembro de 2020

Dadá

O apelido já vem dizendo a que veio, pense em uma senhora que viveu nos tempos mais antigos, os tempos em que eu era criança, feliz, brincava na rua, em terreno baldio, amava tanto a praia e a beira do mar que nas épocas de veraneio eu ficava com a maresia fincada na ponta do nariz e chegar pertinho das ondas do quebra mar e ver aquela imensidão me sugeria certo frenesi. 

A Dadá fazia parte da vida dos amigos de praia e tinha uma compleição física que posso lembrar muito parecida das avós daquele tempo, com busto alto, uma cintura um pouco mais larga, uma altivez, domínio e seriedade na condução maravilhosa da criançada o que me traz à lembrança o respeito e o carinho que a gente tinha em relação à obediência e disciplina gentilmente imposta. 

Lembro que para sair para a praia com a minha amiga eu tinha que passar por certo protocolo na casa dela, voava da minha para lá e acho que na minha casa não tinha isso de saber por onde eu andava, pelo menos não me lembro de perguntar ou informar a minha mãe o que parece um pouco a minha cara, tipo: Fui! 

O que eu mais gostava ao entrar na casa, com uma arquitetura linda, simples e praiana, sempre com as portas abertas era o
 “cheiro” da residência que rescendia a pão torrado com manteiga e café com leite e eu sempre era acolhida com largos sorrisos. Adentrava o recinto antes do horário e tinha que aguardar que minha amiga cumprisse com as tarefas de arrumar a cama, e tocar meia hora de gaita. Neste horário, eu sentava junto dela e a Dadá ficava circulando, cantando as canções e mantendo o ritmo. Era uma família com seis crianças e a Dadá, avó, comandava a trupe, a mim e outros.
 

Hora do banho de mar e me vem à mente a Dadá “boiando” no mar e as crianças em volta. Ela era nosso salva-vidas, nosso porto, nossa âncora. A vida, sempre ela, nos apartou, mas seguimos sempre juntas no coração e não há vez que eu não sinta a maresia enfunando minhas cortinas que eu não lembre daqueles dias em Torres na minha infância com a minha “amiga do peito” Maria Regina e sua adorável avó Dadá.

Um comentário:

lucioschossler disse...

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