quarta-feira, 11 de novembro de 2020

48 horas

Eu tenho certeza que sai por alguns instantes, não mais que isso, porém, o contador das horas diz que foi mais, a realidade afirma que foi menos e minha percepção foi de um tempo que não acabava mais, tal os sinais que eu recebia de todas as partes, do meu corpo, do meu coração, da minha respiração. O entorno não deixou por menos e se afeiou o tanto quanto pode me deixando surpresa de mim, do que via, ouvia e percebia. 

Achei por bem relevar tudo o que se apresentava uma vez que comecei a pensar que havia aportado em outro lugar e não naquele ao qual havia me dirigido. De pronto forcei o meu sorriso que sem plateia se retraiu voltando-se para dentro de mim e foi como sentir a alegria se esvaindo na distribuição de bons augúrios ao ambiente em que ia passando. Percebi que ele foi sumido por um trapo escolhido por qualquer um na clara tentativa de apagar o sol com a peneira além de surripiar o ar livre que respiro. 

O arfar me deixou com a impressão que as horas estavam se estabelecendo diante de mim como intermináveis e a vida resolveu cambiar de lado destravando a cancela do efêmero como se não se importasse com as expectativas e os sonhos que não possuem barreira na realidade sempre presente do pós-imaginário. 

Como se não houvesse amanhã se apresentou a mim as nuances do lado negro outro branco, o alegre outro triste, o doente outro sadio, o falante outro calado, um perto outro distante, um furioso outro calmo, um crente outro pessimista, um limpo outro sujo, de tal sorte, que me enredei nos pensamentos demorando um tempo para colocar a minha cabeça no rumo que me pertence, esta direção que se perdeu e se ampliou para tantos outros além de mim.

Pensei que é chegada a hora de puxar o freio, fazer uma parada estratégica,  e voltar um pouco no tempo com o coração aberto, mesmo que por ora, o arrevesado contador de minutos pareça contrário.

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