quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O negativo do filme

Vou passar a limpo alguns acontecimentos do passado porque quero aclarar para mim as imagens como se eu tivesse uma maquina de fotografar das antigas que dá oportunidade de, após o filme abarrotado, retirar a película e examinar cada acontecimento no negativo e a olho nu antes que o instantâneo se torne um acontecimento colorido e que apareça em suas reentrâncias de sombra e luz uma ilusão, uma verdade falsificada ou uma promessa mal feita ludibriando quem se propôs a gravar. 

Decidi então imaginar que eu tinha em mãos uma maquina bem antiga porque de certo ela terá dentro de si uma engenhoca acurada e detalhista o que os tempos modernos não possuem mais tudo funcionando na velocidade da luz.  Nada mais tem tido a prioridade de se ver em minucias: nem a fala, nem a escrita e muito menos a conversa e me agarrei à tentativa de ver dentro de mim a oportunidade de esmiuçar os acontecidos. Aqueles mesmos aos quais me curvei praticamente sem querer. 

E assim desfilaram perante mim todos os “negativos” dos últimos tempos que surgiram desordenados me proporcionando uma chance de examiná-los contra a luz e decidir o que vou relegar ao ostracismo do fundo da gaveta e o que vou revelar para o mundo e exibir em porta retrato e álbum de recordação que figuram dentro de mim. 

Com muita audácia e coragem deixei na película negativa do filme que inventei todas as ocasiões em que me deixei enganar, atitudes que tomei sem muito pensar e momentos em que deveria partir e resolvi ficar. Vou deixar à mostra apenas o colorido das letras que derrubo por sobre o papel e que vão delatando o dia a dia por aqui, por ali, eternizando a melhor fotografia da vida.

Nenhum comentário:

Papelaria em dois tempos

  Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembr...