sexta-feira, 16 de outubro de 2020

De fora

Idealizei uma chave que apenas abra na minha cabeça lembrança de coisas - ou das coisas - que eu gosto de fazer, de olhar, de rever, de esquecer e de chorar. São muitas e aproveito para - ora em diante - deixar bem na minha frente as ditas por que acredito ser mais fácil acordar e simplesmente sorrir.  Não que eu vá achar graça de tudo, porém o fato de me defrontar comigo mesma e uma listinha do bem já ajuda. Deste mesmo modo de organizar os pensamentos bons desorganizei os de maus modos, os que nascem com a chateação em seu DNA. Estes não terão vez no gaveteiro a que me proponho fazer. Ficarão relegados, bloqueados e serão dizimados sem dó nem piedade pelo bom senso que o cansaço proporciona aos agentes da outra banda. 

O dia que aponta ali no horizonte marítimo chega cheio de novidades e todas diferentes do dia anterior e a esperteza é observar quem mudou mais de lá para cá, se o clima, se nosso intimo. Ou os dois, quem sabe. Melhor não pensar muito sobre o assunto e se jogar de boca na xicara de café preto escaldante porque após dois goles tudo pode mudar. Se o olhar estava embaçado e frouxo, se aclara e se define com o espirito acompanhando célere o movimento. Que perplexidade! Água bem quente e uma especiaria se torna um objeto de desejo todos os dias. E basta. 

Na sequencia o clima se enfuna e entra pelas janelas sendo ele de bons modos ou maus modos, entra sem bater e define se haverão galochas na soleira da porta ou um guarda sol multicolorido na espreita. Qualquer das duas opções esta sempre de bom tamanho porque não tem como discutir com a natureza. 

Chegou a hora do alimento e das escolhas do dia e da mesma forma não se discute, pois a fome é o melhor cardápio e assim, com a disponibilidade de mais ou menos panelas, a alquimia acontece e o corpo agradece.  Com muita sutileza, assim como o dia aponta as orelhas se despede com igual reverência. É nesta hora magistral que a chave vem ajeitar os escaninhos das bênçãos diárias deixando – pelo menos por mais um dia – os desordenados de fora.

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