sábado, 15 de agosto de 2020

Medo



Baixou uma neblina aqui e não consigo enxergar o mar e dei-me conta que a minha vista também anda apequenada e turva - não vai muito adiante – e, assim, minhas vontades também encurtaram, já não eram muitas, mas andam tão sumidas que fica difícil em pensar com clareza do que preciso. Em contrapartida minha mente se expandiu de tal forma que estou sempre em duvida do que segurar ou do que deixar ir, porque nem tudo presta.

Na paradeira, a liberdade de navegar em temas dos mais simples aos mais complexos fica perceptível que vem de tudo um pouco e o movimento se concentra na singeleza que aceito com prazer e vou colocando na prateleira virtual da vida estas sugestões e assim, na medida em que careço de algum contexto, é ali que vou encontrar. De certo modo ando presa também em argumentos.

O acúmulo de assertivas, indagações, algumas certezas e muitas dúvidas vão se dispondo sozinhas, ao seu bel prazer. Fico de olho analisando o movimento instintivo dos meus sentimentos. Aqueles que não coloquei freio, arreio e muito menos um selim, para que eu possa ter liberdade de me enganchar em qualquer um deles e usar o relho corretamente, se necessário.

Interessantemente, na vitrine organizada, que todo santo dia encaro com o propósito de estabelecer algum tipo de liberdade para praticar a meu favor, mesmo com pequena chance de sucesso, sinto no ar aquela ameaça sorrateira, escorregadia, reluzente no seu propósito, a me encarar, brincando de gato e rato comigo. Com certeza O Medo veio de fora, não de dentro de mim.

2 comentários:

Hugo Ferreira disse...

Que lindo texto, Vera!!! Franco e objetivo aos sabores e dissabores da vida...

Helena Maria Duarte disse...

Só a cronista consegue desnudar sua alma num texto tão simples e ao mesmo tempo tão profundo.

Papelaria em dois tempos

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