sexta-feira, 8 de maio de 2020

Fique em casa



O espaço em que se vive, o lugar para onde se foge todo santo dia aceita sem reclamar a desatenção que recebe quando as demandas externas continuam a impulsionar os olhos de todos para uma tela - pequena ou grande – não importa. É assim que no dia a dia o lado de fora vence a batalha e acaba roubando a atenção levando consigo a alma, alma essa estropiada dos descaminhos do mundo, que se debate na controvérsia e se perde entre tantas verdades e mentiras abrangendo todas as ordens inversas e controversas.

Percebe-se que o Universo esta atento, e de um modo bem radical aponta a cegueira em que se vive, mesmo estando com os olhos abertos sem de qualquer modo enxergar. Deste jeito às avessas se estabelece a obrigação de deitar o olhar para a entrada da casa e eleger o capacho como o xerife e guardião de nossas boas práticas a partir de agora. Isto acontece como se nunca houvesse sido importante restringir o acesso do nocivo ao lar.

Como se fosse pela primeira vez o olhar é surpreendido pela montagem dos espaços de convivência que - por qualquer motivo - foram se adequando ao modelo atual de convivência dos núcleos familiares. A tecnologia hipervalorizada nos dias de hoje se instalou de tal modo na decoração da moradia demonstrando que ao entrar em casa, o lado de fora entra junto.

Agora confinados, as surpresas vão se revelando em todos os níveis. O olhar insistente para fora deixou escondido grande parte da rotina que se deve ter dentro de uma morada, seja ela grande ou pequena, de muitos ou poucos moradores. Com certa timidez as pessoas vão olhando para dentro de si mesmas e – mais importante – mirando o outro ocasionando descobertas que com certeza irão valorizar e consolidar as relações para sempre. Para o bem e para o mal. De qualquer modo fica muito claro que parar para pensar nunca foi tão importante.

Os minutos que eram vividos como se não houvesse amanhã estão sendo redimensionados passando a ter um tempo de utilização verdadeiro porque são eles que marcam a alma que parou e se arrependeu da corrida para o nada. A natureza se revelou uma parceira dos sonhos e divagações uma vez que o azul do céu e do mar ressurge para muitos deixando as ruas desertas se tornarem verdadeiros retratos de um tempo.

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