sexta-feira, 5 de julho de 2019

Ouço o que não foi dito



Dei-me conta que as palavras de outros nem sempre entram na minha cachola com o significado que levaram aquela boca a proferir seja o que for, mas a impressão que eu tenho é delas voarem até mim como névoa traiçoeira derrapando na minha incompetência de filtrar corretamente o que vem de lá. De bom e de ruim.

Parece existir em mim um filtro que resolve por conta própria discernir - para meu bem tenho certeza – o que será melhor entender, dando um ar de protecionismo ao meu ser mesmo que o infortúnio seja entendido como um engano e a alegria considerada uma dádiva não merecida, exagerada ou inoportuna para aquela fase.

Vou catando os fragmentos das interlocuções e as abrigo em um lugar inusitado da minha alma, aquela parte que trata de separar o joio do trigo, tirar os gravetos do feijão, subtrair o incorreto e ignorar o que vem depois. Assim, após o diálogo em que me posto a observar e ouvir mais do que falar, saio serelepe com o meu filtro a tiracolo.

Achei por bem utilizar uma peneira muito bem trançada e que tivesse a capacidade de, após eu ter tido aquele engano do verbo soubesse me fazer ver o verdadeiro sentido da fala. Tarefa difícil uma vez que as palavras são arremessadas, em sua maioria, no arroubo da emoção e deste jeito é verdade que não haverá um destino adequado para elas. Se a ira estiver imperando, o dicionário vai pender para vocábulos ríspidos e assim está feita a desconversa. Se, ao contrário, o amor estiver margeando o ponto e vírgula existe chance de iniciar um diálogo errôneo, daqueles que um diz uma coisa e a outra entende o diverso. Entender é uma tarefa árdua que merece certa paciência e erudição. Para qualquer lado que miremos a impressão é de tempos difíceis.

4 comentários:

Nelson disse...

Parabéns prezada amiga pelos teus belos escritos, em especial este, pois tratas de reproduzir aquilo que Exupèry sentenciou, de que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, que creio piamente e até venho por aqui reprisar esta máxima. Apenas acrescento que pouco importa o dito, pois o que vale mesmo é de como nossa alma recepciona, guarda, curte e mantém boa crença, até porque só a nós importa o que sentimos. Siga!

Nelson disse...

Parabéns prezada amiga pelos teus belos escritos, em especial este, pois tratas de reproduzir aquilo que Exupèry sentenciou, de que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, que creio piamente e até venho por aqui reprisar esta máxima. Apenas acrescento que pouco importa o dito, pois o que vale mesmo é de como nossa alma recepciona, guarda, curte e mantém boa crença, até porque só a nós importa o que sentimos. Siga!

Nelson disse...

Parabéns prezada amiga pelos teus belos escritos, em especial este, pois tratas de reproduzir aquilo que Exupèry sentenciou, de que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, que creio piamente e até venho por aqui reprisar esta máxima. Apenas acrescento que pouco importa o dito, pois o que vale mesmo é de como nossa alma recepciona, guarda, curte e mantém boa crença, até porque só a nós importa o que sentimos. Siga!

Nelson disse...

Parabéns e em especial por este belo escrito, porque pouco importa o que possa não ter sido dito, mas sim o que possa ser recepcionado pela nossa alma em festa, vez que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, e por tal, que recolha-se o que nos fizer mais feliz. Um abraço!

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