segunda-feira, 3 de junho de 2019

Tempo severo



É um tempo estranho este em que o céu se anuvia de tal forma que parece que São Pedro disponibilizou um tempinho para realizar uma limpeza geral na região, e esta, a litorânea, abençoada por tantas águas, se limita a receber as tormentas se agregando a elas. A euforia é geral da natureza porque pelos córregos se vai de um a outro lado nos braços do aluvião nervoso que carrega em suas entranhas aquíferas toda sorte de traquitanas, tanto as do bem maior que é a natureza se movendo, quanto aqueles que ali foram depositados por engano, ignorância ou sabe-se lá. A verdade é que são lágrimas do céu que purificam a terra, a água, o ar.

Foi deste jeito aguado que vi em meu entorno mais um dia em que o aguaceiro caia mansamente, parecendo que agora, depois da estripulia que arrumou na beira da praia, depois que os cômoros andaram para cá e lá, depois que as pedras mais pesadas pararam de resistir e trocaram de lugar a vida se ajeita em um tom cinzento. Nem sempre o brilho dos raios solares – que anda em outras paragens – verte luz para o escondido e com esta impressão saí de casa. Recolhi o guarda chuva já na saída lançando-me à molhada e deserta rua.

Minhas galochas avançam com celeridade pela praia mar e com certa alegria vou percebendo que a chuva devolveu à natureza alguns - muitos – dos seus elementos naturais, como os que vieram embarcados nas aguas do riacho desde lá da serra, como os que encalhados em algum vão inusitado do córrego vêm com toda folga dar as caras na beira da praia, colorindo de verde nossas beiradas arenosas. Alguns galhos que foram desgarrados dos seus troncos se exibem na costa rolando com volúpia aos mariscos e algas que amam se agarrar em alguém para sobreviver. Lei da natureza tem bons olhos nesta fauna marítima onde sobreviver é a conta do dia.


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