É um tempo estranho este em que o céu se
anuvia de tal forma que parece que São Pedro disponibilizou um tempinho para
realizar uma limpeza geral na região, e esta, a litorânea, abençoada por tantas
águas, se limita a receber as tormentas se agregando a elas. A euforia é geral
da natureza porque pelos córregos se vai de um a outro lado nos braços do
aluvião nervoso que carrega em suas entranhas aquíferas toda sorte de
traquitanas, tanto as do bem maior que é a natureza se movendo, quanto aqueles
que ali foram depositados por engano, ignorância ou sabe-se lá. A verdade é que
são lágrimas do céu que purificam a terra, a água, o ar.
Foi deste jeito aguado que vi em meu entorno
mais um dia em que o aguaceiro caia mansamente, parecendo que agora, depois da
estripulia que arrumou na beira da praia, depois que os cômoros andaram para cá
e lá, depois que as pedras mais pesadas pararam de resistir e trocaram de lugar
a vida se ajeita em um tom cinzento. Nem sempre o brilho dos raios solares –
que anda em outras paragens – verte luz para o escondido e com esta impressão
saí de casa. Recolhi o guarda chuva já na saída lançando-me à molhada e deserta
rua.
Minhas galochas avançam com celeridade pela
praia mar e com certa alegria vou percebendo que a chuva devolveu à natureza
alguns - muitos – dos seus elementos naturais, como os que vieram embarcados
nas aguas do riacho desde lá da serra, como os que encalhados em algum vão
inusitado do córrego vêm com toda folga dar as caras na beira da praia,
colorindo de verde nossas beiradas arenosas. Alguns galhos que foram
desgarrados dos seus troncos se exibem na costa rolando com volúpia aos
mariscos e algas que amam se agarrar em alguém para sobreviver. Lei da natureza
tem bons olhos nesta fauna marítima onde sobreviver é a conta do dia.
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