Foto Vera Renner - Beira Mar Capão da Canoa - RS |
Identifiquei-me com este guarda-sol tão bem
amarrado na beira do mar, talvez porque ele esteja encerrado dentro de si e proibido
de espiar as ondas sem se dar conta. Foi fechado para balanço, foi amarrado
para não precisar proteger ninguém, foi excluído de dar amparo a quem dele
necessita, foi interpretado como inútil neste solstício de inverno.
A verdade é que existe uma paradeira no ar,
uma menção da natureza de pouco deslocamento onde se pode aproveitar para
pensar, para analisar, para reformular e para ser, quem sabe, mais assertivo no
propósito e menos ágil na ação. A luz reflui como uma benção ao espirito como
se de fato fosse urgente a precisão de dias mais curtos e noites mais longas
porque só assim a escuridão vai se transformar em renovação, ao invés da
percepção de que escureceu e vamos enxergar o que até agora nos foi tapado.
Acredito que os avisos vêm nos detalhes das
idas e vindas, da observação delineada, nas nuances da troca do calor pelo frio
que afeta nosso olhar que ora vaga solto e sem determinação, ora se apruma para
enxergar o que para a natureza se faz óbvio.
Assim ressaltamos nosso espirito praieiro que
nem bem os olhos se abrem e já se deitam para o lado do mar, para sentir a
temperatura, para ver se está mais calmo ou mais furioso, se o sol veio para
derreter ou para simplesmente acelerar os plantios da estação, se o vento veio
cantar a ermo ou se veio para se divertir no embaraço dos cabelos de todos e
mais um.
Faz parte do acordar se certificar que a
praia esta no mesmo lugar, que as plantas brotaram inequívocas de sua missão,
que os pássaros cantam talvez com uma rouquidão dengosa, que os passeantes
trotam com galhardia na ventania, na neblina e no areal salínico. De certo modo
andamos amarrados pelo gelo, mas nunca sem ter a visão de mesmo assim o
movimento continuar e a reza por dias mais quentes seguir firme e forte.