sábado, 17 de fevereiro de 2018

O veleiro e a bandeira preta


Enxerguei ao longe um veleiro. Longe, muito longe, bem na linha onde o horizonte marítimo encontra o céu e pensei que talvez fosse um sinal auspicioso para os tempos que estão a chegar, os dias em que até a maré baixa seus flaps para não algariar o povo nativo. A imagem passou por mim rapidamente e então me veio à mente que seria um sinal que o tempo de paz estava chegando, que o lugar teria de volta sua personalidade pacata revigorada, que as ruas teriam seus musgos na altura da vista, que o vento viria brincar novamente entre ondas, que as arvores iriam cantar seus cantos para que todos ouvissem. Posicionei o alcance dos olhos de forma a ter certeza que o sinal estava acontecendo exclusivamente para mim e com a providência interessante do acaso fincou-se à minha frente, na beira do mar, uma bandeira preta agressiva. Boa!

Percebi que hoje o meu espirito está muito parecido com aquele veleiro que singrou as águas, silencioso e célere, identificando o meu apreço pela normalidade, pelo retorno do silêncio que não muda nunca por aqui. No final das contas conseguimos navegar pela vida com certa ligeireza como se atados estivéssemos em cálculos perfeitos que se movimentam conforme a vida anda.

Assim também a bandeira preta tremulante e amiga lança-me recados mais do que próprios avisando-me que o mar resolveu dar um basta, acelerar suas águas ao longe fazendo com que as metafóricas embarcações simbolizem o fim do tempo quente em todos os sentidos e que a nossa matemática de vida volte a ser calculada com a exatidão de um veleiro perfeito.

Deste jeito nada peculiar escuto um ar mais calmo com o fim de tanto desvario que se estendeu por todas as portas e janelas, que se proliferou com intensidade ultrapassando qualquer limite dificultando a organização do pensamento.  Falta pouco para o fim, mas pelo jeito os sinais que o mar me envia são imbatíveis! Ufa!

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