Enxerguei ao longe um veleiro. Longe, muito
longe, bem na linha onde o horizonte marítimo encontra o céu e pensei que
talvez fosse um sinal auspicioso para os tempos que estão a chegar, os dias em
que até a maré baixa seus flaps para não algariar o povo nativo. A imagem
passou por mim rapidamente e então me veio à mente que seria um sinal que o
tempo de paz estava chegando, que o lugar teria de volta sua personalidade
pacata revigorada, que as ruas teriam seus musgos na altura da vista, que o
vento viria brincar novamente entre ondas, que as arvores iriam cantar seus
cantos para que todos ouvissem. Posicionei o alcance dos olhos de forma a ter
certeza que o sinal estava acontecendo exclusivamente para mim e com a
providência interessante do acaso fincou-se à minha frente, na beira do mar, uma
bandeira preta agressiva. Boa!
Percebi que hoje o meu espirito está muito
parecido com aquele veleiro que singrou as águas, silencioso e célere,
identificando o meu apreço pela normalidade, pelo retorno do silêncio que não
muda nunca por aqui. No final das contas conseguimos navegar pela vida com
certa ligeireza como se atados estivéssemos em cálculos perfeitos que se
movimentam conforme a vida anda.
Assim também a bandeira preta tremulante e amiga
lança-me recados mais do que próprios avisando-me que o mar resolveu dar um
basta, acelerar suas águas ao longe fazendo com que as metafóricas embarcações
simbolizem o fim do tempo quente em todos os sentidos e que a nossa matemática
de vida volte a ser calculada com a exatidão de um veleiro perfeito.
Deste jeito nada peculiar escuto um ar mais
calmo com o fim de tanto desvario que se estendeu por todas as portas e
janelas, que se proliferou com intensidade ultrapassando qualquer limite
dificultando a organização do pensamento. Falta pouco para o fim, mas pelo jeito os
sinais que o mar me envia são imbatíveis! Ufa!
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