Meus olhos não desgrudam do mar, talvez
porque eu deseje do fundo do meu coração que ele me entenda que me acolha neste
exílio, que converse comigo como se fosse um compadre, como se fosse todos os
meus amigos que ficaram para trás, como se fosse um cliente das antigas
satisfeito com o meu trabalho, como se fosse uma amiga íntima a qual eu possa
abrir meu coração e que ela, no mesmo instante, vai se solidarizar comigo e com
todas as asneiras que eu pulverizar o ar da nossa conversa.
Eu queria que ele, em sua grandeza, se apequenasse
só para me fazer companhia nos dias em que me arrasto pelas horas buscando a
inspiração que não quer bater de jeito nenhum na minha porta mesmo que ela
sempre esteja encostada, que se nega a entrar pela janela ou pela ventarola,
não se importando com o meu pensamento escravo de mim e que não arreda pé do
compromisso que eu mesma me impus.
Na outra ponta do meu olhar eu enxergo que
talvez fosse muito legal ter tantos parentes como ele os tem. A fauna e a flora
marítima, o vento, o sol, a lua e a areia e assim este lote fica de cantinho,
como uma emergência ou quando lhe falte os pescadores que, de certo modo, supre
suas conversas de sobrevivência. Uma alternativa perfeita, mas, posso entender
que esta matemática não serve para os que habitam o rés do chão. Assim,
inexistem opções e as que se apresentam às vezes pode ser ruim para uns,
péssima para outros e um vazio para tantos. Há muitos suspiros neste mar com
ondas intermitentes.
Decidida, fui-lhe ao encontro porque me
pareceu, de longe, que ele estava aquietado, com uma cor cinzenta
confundindo-se com o horizonte de um céu anuviado e um quebra-mar perfeito.
Caminhei resoluta por entre suas entranhas como se fosse ter com ele um para
sempre me sentindo heroica ao rebater suas ondas que me quebravam no peito.
Minha energia aflorada foi derrubada pela primeira onda espumosa que passou por
cima de mim. Depois desta recepção de todos os seus parentes, este mar, que me
vem pela frente todos os dias, me ninou em suas ondas.