Alinhei como sempre faço todos os meus
cabeças de borracha imaginária, apontei-os com delicadeza, fiz com que todas as
folhas destacadas pela gilete do apontador se tornassem um mosaico colorido, e
que pudessem, assim, lado a lado, me dar um alô, um recado, denunciar a espera
pelas letras desenhadas ou pelas mal traçadas linhas como se ainda fossem de
alguma serventia, como se ainda alguém se lembrasse da existência deles, como
se ainda importantes fossem. Foi-se o tempo acalmado em que a caligrafia
silenciosa gravava no papel o pensamento na medida em que ele vinha surgindo, a
borracha servindo para apagar o mal dito e assim a escrita possuía um ritmo
romântico no desdobre da cadencia do pensamento versus a impressão dos mesmos.
Por isso mesmo ali estavam todos enfileirados,
apontados algozes com intenção genuína de adentrar a minha cabeça e tirar tudo
ou sei lá, quem sabe, o pouco que tem dentro dela, ou nada, de vez em quando.
Eu os senti maquiavélicos ao me dirigirem seus grafites em setas buscando
dentro de mim o assunto. E então, para minha surpresa, o meu dia vem me
cochichar enredos que andavam um pouco adormecidos na cachola e que, por serem
duvidosos, meus dedos custaram a se movimentar em favor deles ou contra.
Com este bordejo deitei para trás o olhar
dando-me conta da falta de algumas categorias que há bem pouco tempo andavam em
meu encalço fosse para o bem ou para o mal e, confesso, que até do mal senti
falta porque andava bem treinada para suportar a tudo e, por isso, talvez eu
esteja acometida de uma pontada de abstinência do incômodo.
Com esta gordura acoplada como se fosse um
cinturão protetivo, eu andava pelo mundo, sem perceber que além do escuro que
vez ou outra se apresentava, havia ainda rastros de determinadas situações que,
de certo modo, não havia me dado conta do tanto que me atrapalhavam. Disfarçados
de bom augúrio, ao se apresentarem, consegui perceber o tanto de invasivos
todos estes assuntos se tornaram e me deixaram refém.
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