Acho que ele chegou de repente, mesmo sendo
esperado por muitos, anunciado por outros tantos. A friagem nos pés se anunciou
há tempos, nas caminhadas na beira do mar provando a textura da areia que
viceja sem resíduos por um longo percurso, onde os pássaros voltaram a
frequentar porque na temporada, fogem como o Diabo da Cruz e lá se vão para
locais mais calmos e aprazíveis. A bicharada da terra ainda anda ressabiada e
oculta, talvez aguardando a certeza de que o calor e a invasão estão mesmo em uma
distância de dez meses, contando de agora até a roda do vale tudo começar a
girar.
Agora, faz parte da turma do “Ano Todo” a
massa que nem bem acordou rola as chinelas até a beira do mar, não importando a
distância que os separa pois o importante é enxergar no oceano, os prenúncios
para o dia, sentir no rosto as vergastadas do nordestão ou o vento gelado do
sul porque por aqui é quase sempre um ou
outro. Na volta, a passada na padaria e entre bocejos chega ao fim a primeira
garrafa de mate e com ele a companhia é sempre farta e a conversa também. Mesmo
assim o tempo vai correndo nos ponteiros de maneira equilibrada e real, com
ninguém dando salto mortal para chegar em lugar algum, porque tudo agora já
está assentado na sua devida cancha. O tempo aqui anda no ritmo dele próprio,
bem como tem de ser.
O silêncio se refestela na cidade e
presenteia os ouvidos agradando a todos que sorriem cinicamente ao constatar a
alforria do ritmo desequilibrado. Agora fica fácil dar asas à imaginação para
qualquer trabalho que se for executar, porque com as horas marcadas
precisamente é possível retirar da cachola muitas novas ideias, abrir espaço
para as impagáveis conversas consigo próprio, mesmo as mais tolas. Estas são o
oxigênio para os diálogos elaborados que deverão nascer no decorrer da semana.
Os jardins, que por alguns meses estarão
órfãos dos seus donos, sentirão a leveza das duas estações que fazem fila para
serem eleitas as melhores do ano no quesito Morador de Praia.
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