Tudo começa com o antigo, com o tempo remoto
dando as caras nesta atividade que tem como premissa muitas atenuantes, todas
também limadas no ocorrido, qualidade rara em tempos em que materiais e sua
produção final já nascem com hora certa de descarte, com uma sina fatídica de
nem bem chegar ao destino e tudo o que lhe deve prender se afrouxa, se desfaz,
se esfarela, se decompõe e o lixo fica sendo o principal destino.
A fundição já nasce imortal pelo motivo
simplório de ter em seu cerne a missão de se ajuntar com tantos outros
materiais, que formarão a alquimia escolhida a dedo pelo artista, ratificando
assim a liga de juramento para que, agora, a partir da cabeça pensante que emerge
do calor do fogo, se crie a peça resistente a todo tipo de ataque. Sua
destruição não tem no horizonte uma data, mas sim um renascimento, porque na
sua perdição por qualquer motivo poderá
voltar ao forno, à bigorna e então renascer com outro formato, outra precisão,
outro contrato de vida. Se isto não ocorrer, deverá vagar pelos campos da vida
de certo modo sem dono, ralando suas formas, mas jamais desistindo de ser.
A criação de um item dá seu primeiro sinal de
vida em um molde que decide para o quê servirá o objeto e assim vem com uma
descrição de sua serventia que somente o seu criador a conhecerá. Na labuta de
tornar realidade o que imaginou se junte à fundição todos os fiapos de sonhos
do seu mentor, se entrelacem suas dúvidas, seus medos e sua urgente expectativa
para ver sua obra finalizada e entregue ao mercado, ou quem sabe a algum dono
já destinado.
Não vale aqui falar da surra que as ligas
sofrem para se tornarem peças importantes, objetos que irão incorporar todo o
tipo de personalidade valendo ressaltar que nenhuma terá seu surgimento como
sendo descartável, ou de menor sentido, ou ainda sem ter em si impressa uma
alma, um santo, uma autoridade, um líder, uma feição. Os artefatos nascem com a
liberdade de forma já impressa e o acabamento e a precisão dá luz aos seus
maiores dons.
Assim as ligas de metais diferentes se unem
através de um artesão que entende da alquimia do ferro, do fogo, da forja, do
modelo e da liberdade de entrar em ação tantas marteladas quantas forem
necessárias para que nasça desta resistência uma peça longeva, repleta de
ferrolhos, aldravas, pregos e cravos que virão assim fortalecer o que a
efemeridade tenta impedir.
4 comentários:
Perfeito!Amiga escritora!Parabéns,verdadeiro e construtivo.
Perfeito!Amiga escritora!Parabéns,verdadeiro e construtivo.
Nossa! Acho que esta crônica bem poderia se chamar: “ODE” ao Metal.
Estando minha atividade ligada a metalurgia, confesso que nunca li nem ouvi de pessoas ligadas ao nosso ramo, alguém descrever com tanta propriedade a alma da criação e produção de peças em metal. Vou imprimir e dar aos meus colegas de atividade uma cópia desta crônica. Tenho certeza que eles irão gostar muito, e se sentirão, como eu, profundamente homenageados por tão perspicaz cronista. Muito obrigado em nome dos “ferreiros” e galera da fundição. Nós somos os verdadeiros metal pesado “Heavy Metal”. Mais uma vez obrigado Vera Renner.
Com bons olhos, penso na obra do espanhol Velásquez , o seu quadro A forja de Vulcano.
Postar um comentário