sábado, 11 de março de 2017

Grupo


Começam cedo porque parece que necessário se faz estar enroscado, abraçado e grudado em seres semelhantes e que se não houver a constante troca de tudo, ou quase, não haverá lugar no mundo para o dito cujo. São muitas as denominações para um grupamento, para a tendência de se fundir, de fugir de si para se abrigar entre tantos, de se meter em meio ao caos barulhento onde com tantas vozes resta a impossibilidade de ouvir. Um mundo onde não existe a escapatória de não ter reflexo.

Para tantos e uns poucos mais, tudo começa quando a necessidade de ser espelho é tão agravante que andar ou ser só parece tarefa para fracos, e somente se amontoando será reconhecido e talvez reparado. E assim se estabelece tantos pedaços de conversa entremeada pela necessidade premente de se posicionar como estrela em um firmamento tão espesso que somente subindo sem parar não será empanado seu brilho.

Desta maneira vai se levando a carga que nos é de direito e as de nem tanto, porque além de buscar uma identidade o entorno exige que se abra a alma para que então possa existir a comparação, o contraste de orgulhos, os impulsos hedônicos, a participação, a conversa incansável sobre todos, tudo e mais um pouco. E na ânsia de ser completo surge por todo lado as confrarias, da cachaça, do vinho fino, do gourmet, da cerveja artesanal, do espumante e assim o mundo virtual entra em cena, como se não quisesse nada, como se inocente e invisível fosse.

Com pompa e circunstância inaugura-se o grupo irreal que leva de arresto quem nem pensa em conversar fora de hora, que tem para si que as vozes interiores são tão intensas que não sobra espaço para tanto fonema distraído, para interlocução desvairada e assim os minutos preciosos da vida vão sendo sugados para um ralo sem fundo. Fica a sensação de impotência diante da premência do mundo – que ora se denomina virtual – de criar um desassossego íntimo com uma obrigatoriedade de pertencer. Para tudo que eu quero descer.

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