Não parecia que tudo estava revirado a
primeira vista porque com os olhos bem abertos tudo está no lugar certo,
modificando talvez um pouco as cores do dia que nunca amanhece igual porque o
olhar sempre procura o mesmo, para se certificar que ali está mais um tempo.
Mas, não é somente mais um dia, pode ser apenas mais uma brisa, mais uma flor,
mais uma pedra junto de outras tantas e num segundo desce uma neblina densa que
esconde o que estamos acostumados a ver.
Cegos por não enxergar o de sempre vamos
tateando na experiência que apenas vem soletrar certo bê-á-bá que poderá trazer
tudo novo do tal desarranjo e com esta nova escuridão o medo se instala pelo
desconhecimento de andar em lugares que dão outra visão do que já existe.
A vista baixa no cinza da vida se submetendo
ao bater do coração em marcha lenta, que de certa feita não aprecia alcançar o
improvável, olhando para trás com frequência, duvidando do que vem pela frente,
espiando aos lados por sobre os seus ombros e os de outrem, a incerteza que se
iniciou já cedo deste dia.
O incômodo se adequa a singeleza desta parada
que parece obrigatória porque prende os pés no chão, desequilibra o corpo que
não consegue se desvencilhar destas amarras invisíveis que faz o ambiente mais
denso, como querendo se manifestar contrário ao inusitado, ao já determinado,
ao previsto.
Os braços inertes não conseguem alcançar o
próximo para o abraço, para nadar em mais uma onda, para apontar o caminho,
para se apoiar no cansaço ou mesmo para se expandir em gestos de interpretação
tão usuais e tão diferentes entre todos acompanhando as falas mais brandas e as
mais corajosas. A cabeça meneia o desacordo sintomático e tenta entender em que
se transformou esta data, ou o que este tempo simplório quer dizer.
E assim como veio se foi, liberando a simplicidade
da vida de mais complicações, ensolarando as ideias, desamarrando os desejos e possibilitando
tudo por mais um tempo. A vida é um sopro.
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