Fiquei ali de cantinho, tentando me esconder
do tumultuado entorno que praticamente me rouba a alma e assim, com requinte de
crueldade extrema a levam por ai, com a clara tentativa de torná-la de melhor
serventia social ou quem sabe escraviza-la para os fins que ainda serão
deliberados, pois o tempo quente é de fazer tudo ao contrário. Dei-me por conta
que, de certa maneira, possam eles me considerar uma ameaça para a rotina
alheia, porque em mim de corpo e alma pulsam outros desejos, outros caminhos,
outras metas, outros pensamentos e, mais do que tudo, outras necessidades.
Apesar do meu esforço, não consegui brecar a
turba ignara de ocasião que fez de refém o meu espirito e vai daí que me perdi de
tal maneira que não sei direito quais os meus horários, meus hábitos bagunçaram
de tal forma que levanto de madrugada para que, por alguns instantes, eu possa
pensar que estou inteira e sã. E assim, fria, eu consiga alisar a camisola para
ter certeza que meu corpo ainda está ali, que meus pés pisem no chão gelado
para confirmar que sou corpo físico, que meus olhos se integrem ao negror da
noite sem estrelas e deste jeito eu não me sinta tão tragada pela
temporada.
E assim, com este toque destrambelhado, vou
antagonizando meus algozes pregando-lhe peças, fazendo apostas de
esconde-esconde onde meu espírito livre passa a perna na realidade sempre com o
objetivo de voltar para o lugar de onde nunca deveria ter se evadido. Muito
menos à força.
Sigo no encalço da minha alma roubada pelos
quadrilheiros e vez ou outra, quando consigo lhe colocar a mão vejo o quão
inócua se faz minha atitude, porque lá se vai ela para tantos outros
convescotes, parecendo um palhaço mambembe que de tão colorido fura os olhos.
Acabei ficando com pena desta minha alma
aprisionada pelos outros e que me pertence e, assim, em um momento de fraqueza,
decidi juntar-me a ela, afinal, são tão poucos dias para assistir a loucura
desta gente que talvez seja de muito bom tom não me apartar. Quiçá, com estes
algozes de plantão terei um manancial de argumentos para realizar uma grande
fogueira das vaidades imaginária, na beira do mar, e deste modo ovacionar a
chegada do fim dos tempos ruins.
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