domingo, 2 de outubro de 2016

A chave


Parecia invenção, mas era fato, e dava para perceber agora, e somente agora, que as possibilidades se aventavam se mostrando como uma chave escolhida a dedo, entre tantas outras e com certeza esta única irá abrir todas e tantas cancelas mesmo que não seja esta a vontade. Com este convencimento se vai ao encontro do que aparentava com tanto simbolismo ser apenas uma sugestão.

Ledo engano pensar que o caminho de descoberta estaria destrancado, e assim, tanta travanca quase liquefez a motivação. Mas, a imagem de uma clave em mãos vale a determinação de tentar todas as fechaduras que surgem pela frente e assim quem sabe, encontrar o quê.

O primeiro ferrolho que se deixou abrir tinha um jeito um pouco mais antigo, rangeu ao ser tocado, soltou farpelas enferrujadas, trancou um pouco mais, enfim, destravou. As cenas eram muito semelhantes ao ferrolho transgredido com uma disposição acirrada de forjar a ferro e fogo o que fosse na desarrumação a falta de prurido era inconteste e certo jeito calhorda de modo geral imperava.

O segundo portilho era diferente do anterior uma vez que ele se apresentava untado, fácil de destravar, com um aporte de engenhocas azeitadas e limpas. Ali dentro o cenário era iluminado, com muitas máscaras bem dispostas que apenas por detalhe também não levavam a nenhuma resposta. Frias, não tinham nenhuma quentura nem colorido e estavam ali aparentemente como um recado para sair às carreiras.   

O terceiro ponto da chave era uma manopla, pouco estruturada e de uma simplicidade rústica tão ingênua que ao menor toque de virada o segredo se abria. A partir dali, era estar em um portal muito diferente dos outros, um cenário onde havia apenas uma luz difusa que permeava pelos cantos vazios exalando um perfume que envolvia o ar rarefeito, criado para alertar, para suspender a respiração, cerrar os olhos e sentir. E é assim que aparecem as respostas, em uma página em branco, uma cancha vazia, uma ausência, um suspiro. 

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