Acabei desviando do meu caminho naquele dia
doido que parecia uma gincana, só que promovida por mim. Deixei para trás a
parafernália tecnológica porque interessantemente eu não tinha tempo para
perder naquele dia, apesar do dito popular que ela serve para se estar atenta a
tudo e que ajuda um monte. Eu corria uma maratona de objetivos e estava ali a
cumprir com louvor se preciso fosse. Sem as ditas cujas.
De repente senti que alguma coisa estava me
atrapalhando os movimentos e dei-me conta que eu estava travestida com algumas
fantasias e máscaras que eu, em habitando aquele planeta, seguidamente
utilizava. Foi nesta hora que tranquei o passo, me olhei de cima a baixo, e me
estranhei. Mas quem é esta criatura de ombros caídos, com esgar nos lábios ao
invés de um sorriso, de mãos crispadas, com pernas pesadas, arrojando os pés.
No chão vitrificado refulgia o peso que seguia de certa forma sem
identificação, e, se assim o fosse, ele não poderia ser físico. Melhor prestar
mais atenção, o buraco é mais embaixo.
Decidi olhar melhor o entorno porque entrei
como um furacão neste mundo que eu já havia dado o aviso prévio e me confundi,
eu acho. Foi como passar de um portal para outro sem preparação, no mínimo, da
alma. Parei de pronto para olhar o que se passava e foi como se um filme não
muito antigo desenrolasse com vagar. Vi-me ali entre os muitos, quase igual,
ostentando muitos feitios, envergando verdades dos outros, ostentando de certa
forma um ser que eu, além de não o ser agora, também não o era. Mas falseava,
confesso.
Resolvi sentar um pouco naquele complexo
pomposo, com perfume exclusivo e sempre o mesmo, e verificar como eu poderia ter
alçado voo deste lugar que teoricamente foi construído para receber pessoas,
amornar os corpos do frio da rua, resfriar dos calores de verão, calar nosso
pedido de socorro para a solidão, abrir os nossos olhos para a cobiça do
desnecessário, cercear nossos movimentos como se animais desgarrados e sem rumo
fossemos. Um brete perfeito para enquadrar e direcionar nossos passos solitários
junto aos tantos outros perdidos nas tardes daquele bairro.
Levantei um pouco rápido demais porque, de
certa forma, me senti desconfortável de estar ali sem a alegoria, sem a camuflagem,
sem o olhar altivo, sem o nariz empinado, sem o salto alto, sem nenhuma grife a
ostentar. Afinal de contas, sem não mais conseguir ser aquela. Corri para
quem eu devia uma narrativa, colocando a trajetória em pratos limpos.
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