Entrei naqueles estabelecimentos comerciais
porque naquele dia me deu uma fome estranha e inconteste de ver e sentir as
coisas mundanas da vida. Parecia que eu havia tido uma super oferta zen
e me percebi definhando o gosto por observar outra coisa, fora a natureza
impávida à minha frente. Observo que pode ter sido certa ressaca de felicidade.
Resultou nisso um contraponto que me fizesse deitar minha atenção sobre as
coisas vãs, inúteis, fúteis ou de menor serventia.
Assim fui indo de loja em loja, entrando e
saindo, olhando, passando os dedos pelas superfícies, ora sentindo a textura dos
tecidos de roupas de inverno, abrindo as narinas para aromas para os perfumes e
beleza, ajeitando o cabelo ao entrar no salão, esticando e aprumando o corpo ao
passar pela academia, olhando para os pés para conferir se estava bem calçada,
aguçando o paladar nas cafeterias e restaurantes.
Nas lojas de móveis montei toda a minha casa
de novo, escolhi cada peça, medi com o olhar e tive a certeza que tudo teria
espaço. Passei na loja de tecido e escolhi cortinas, colchas e mantas, os
lençóis, fronhas e almofadas também foram passadas em revista. Nas variedades
encontrei muitos elementos de adorno. Gostei de tudo. Reservei tudo.
Morei em cada apartamento que estava em
oferta e se apresentava sem pudor na porta das imobiliárias, uma experiência de
cada vez, na beira do mar, no último andar do espigão que faz sombra na praia
bem cedo da tarde, nas mansões ao longo da estrada e que de praia só tem o nome,
porque o cheiro do mar nem chega ali. Experimentei de tudo. Gastei minha
energia para ficar com a minha mente soterrada de informação, de cores, de
formatos, de novidades. Novos ares.
O lugar que deixei para visitar por último
foi a livraria. E foi ali, frente a
frente com o ambiente carregado de história, as mais variadas, que o meu surto
esquisito sumiu e consegui desta forma voltar a mim, me conectar com o meu
propósito diário, me sentir novamente refém do teclado, da fúria na busca de
ideias, do destino marcado com letras misturadas e assim, ressabiada pelo
arroubo involuntário girei os calcanhares.
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