Quando
vi a neblina pensei no meu coração que de vez em quando perde a cor, pulsa bem
devagar, quase para. Não dou muita confiança para ele porque se ele está
cansado eu compreendo. Então achei por bem deixa-lo quieto, não o envolver na
coisarada da vida de todo dia e resolvi andar sozinha sem ele.
Devo
dizer que foi interessante a proposta porque acabei ficando meio boba, passando
por cima dos desaforos, me fazendo de desentendida no escárnio, trocando de
lugar quando a companhia não me favorecia, calando ao invés de retrucar,
deixando desarrumado o que urgia organizar, sorrindo ao invés de chorar,
desviando os olhos para não ver, olhando com apuro para não esquecer, decidindo
então não me importar.
Dar-se
por vencido pode ser a chance de se renovar, de resistir ao óbvio e não buscar
mais respostas, explicações, considerações infinitas sobre o mesmo tema. É
enveredar por outra picada, revolver outras mudas, admirar-se com outros fatos,
sujar os pés com outras terras, ser mordido por outros bichos, descansar em
outros pomares.
Derrotada
na intenção e com o coração na marcha lenta posso reescrever minhas metas,
chafurdar em outras letras, fazer novos relatórios, inventar outros problemas,
posso até deixar de resolver o que me tira a força, me ater ao improvável, me
concentrar na surpresa, me colocar de frente ao desconhecido, falar bobagens.
Vou
misturar tudo, os pensamentos que não vão combinar com as ações, a mesa do café
com utensílios dispostos que nada tem a ver um com o outro, criar um clima
novo, embaralhar o que está predestinado, bagunçar as regras, movimentar a
rotina, escolher o diferente para poder esquecer o que se arrasta.
Dei
uma espiada no meu coração para ver se ele estava aquecido e retinto de sangue,
se pulsava afinal. Nada. Parece que aprovou minhas medidas.
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