Pensei que seria fácil me desapegar, afinal,
ninguém nasce com um bate papo diário e o leva vida afora. Nascemos sem nem
saber falar então fico sempre pensando que o que não se trouxe de berço,
podemos descartar, ou esquecer, ou dizer que é irrelevante. E assim segui meu
rumo tentando apagar todas aquelas letras que em todo momento me chegavam, me
mostrando algo alegre e triste, íntimo demais para ser verdade, engraçado e ridículo e ao mesmo tempo voraz, invadindo a minha rotina. Aliás, uma associação que não faz parte de mim.
Pensei melhor e acho que foi por força do hábito responder, ser curiosa e não
saber dizer não. Devia ter dito que iria consultar o oráculo ou qualquer outra
coisa bem estapafúrdia. Mas não.
Voltei a chave e fui escarafunchar as gavetas
dos últimos dias e lá encontrei novidades, assuntos novos, desafio literário e
critica interessantes, relatos do dia a dia, mas também uma pergunta que para
mim não fazia o menor sentido. Olhei mais fundo e enxerguei que meus olhos se
avivaram, ficaram mais abertos para o dia, fiquei mais sagaz, mais ágil e
esperta na interpretação de quase tudo. Quase.
Também olhei para os lados com mais paciência
observando os caminhos que todo dia variavam, respirei profundamente porque é
urgente levar apenas vento ao cérebro para que ele possa devolver ideias
geniais, curas milagrosas, resoluções para a vida que se reinicia ou que inicia a
terminar.
Tentei entender do que eu sentia falta, o que
havia se perdido neste espaço de tempo, este momento que criei para não me
alarmar, este ambiente que eu montei para relembrar e então celebrar todas as
minhas passadas até aqui e planejar as próximas.
Em que lugar ou circunstância surgiu todo
este assunto, em que momento brotou esta interferência ousada e em que hora do
dia me atinei de tudo. Devo ter ficado surda ao me transferir e assim não
escutei o alarme de perigo, me amofinei, fiquei apreensiva, perdi a cautela. Então acabei chegando à conclusão de que o meu
mal foi a ilusão.