domingo, 6 de dezembro de 2015

Cartilha


Em um primeiro momento eu contei certo que aquele assunto teria de ser enfrentado com astúcia e paciência e quase me imolei em sacrifício, uma vez que eu não tenho estas qualidades. Mas, “não está fácil para ninguém” jargão da hora de uns e outros e então resolvi que eu seria minimamente inteligente e tranquila, mais duas coisas de que sinto muita falta em mim quando o caldo entorna.

Mas se eu não as tenho neste exato momento de premência, terei que pedir emprestado e ao meu redor todos do alvo viraram a cara ao meu esforço. A bola nas costas rola solta no meu campinho e na continuação do contexto lembrei que nestas ocasiões fechar a cara e ser firme funciona. Negue um sorriso e verá que a energia que está rolando contra você dá uma baqueada geral e recua. Então foi o que eu fiz.

Mas fiquei triste por não poder intercalar na roda da conversa nada animadora, diga-se de passagem, a benção de uma gracinha, a facilidade que o bom humor proporciona mesmo em assuntos mais espinhosos. Levantou-se no ar certa mágoa por ter de passar por este momento sem merecer a ousadia do descrédito e ter de ouvir apartes fora de controle e de propósito para o momento. Neguei meu sorriso e leveza no trato com o outro e isso doeu mais em mim, certamente. Mas seguir em frente sorrindo se aparentava totalmente impossível, por isso sucumbi.

Existe uma crise no ar, uma piora de atitudes que antes serviam de norte para todos, jovens e velhos. Era um tipo de cartilha dos bons modos que todos recebiam ao nascer antes mesmo de abrir os olhos. As famílias honravam estes mandamentos e os passava de pai para filho para que sempre que houvesse discórdia, discussão ou ideias diferentes lembrasse-se de seguir o rito.


A cartilha jaz sem serventia neste século, onde grassa o império da falta de educação e respeito ao próximo. Mas eu ainda penso que abrir um sorriso seria uma ótima solução. Antes de ler a cartilha, é claro.

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