Não vai longe o dia do
acreditar, de se jogar de ponta cabeça porque o dito vinha com tanta ênfase que
seria uma desumanidade ignorá-los. A cabeça feita vem antes, se sobrepondo
muitas vezes ao que virá depois e então, ao se deparar com o inaudito, a sensação
de bobeada fica muito presente.
Assim é quando se fala muito
e pouco se promete, assim é quando se destaca o que não tem a menor
importância, ou pior ainda, se regozija do que deveria fazer parte isolada de
um caso. Não parecer é coisa do passado e a verve hoje está centrada, poderosa,
entre umbigos, solapando qualquer intenção de segredo.
Estes são os dias em que
ainda não se está preparado para a torrente de qualidades e adjetivos superlativos
com que as pessoas se apresentam. Não dá nem tempo de parar e escutar a fluidez
da conversa, para, aos poucos, se tomar um fôlego e dar conta do terreno que se
está pisando, não dá nem hora de pensar, e muito menos de sentir se há empatia
ou não. Somos soterrados pela audácia do mostrar-se.
Então é assim: expor tudo de
maneira incontrolável construindo uma imagem tão poderosa de si mesmo que perambulam
por aí, não pessoas, mas sim espectros de si, fantoches montados minuciosamente,
com um corte de tecido mais fino, com linhas de seda impecáveis, botões,
bainhas e arremates folheados a ouro, se possível. Tudo do bom e do melhor, como
se dizia antigamente, e que hoje nem cabe esta frase. O que cabe somente é o
parecer ser e o ser, coitado, este está completamente desacreditado e sufocado
pela multidão de bonecos fake que transitam nosso dia a dia, com uma riqueza de
detalhes inventados. Os personagens parecem tapetes trançados ponto a ponto no
detalhe.
Uma construção inócua porque
o valor está na costura desencontrada, na conjunção do bem e do mal, no
encontro de cores que não combinam, na percepção de tecidos mais leves junto
aos mais ásperos, na visão de um lado de uma ponta rasgada e de outro, uma
franja desarticulada.
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