O dia ia alto quando A Menina
foi expulsa do Prédio uma vez que iniciariam sua derrubada naquele mesmo dia,
um pouco tonta e cansada de tantos avisos e desistências, sequer lembrou naquela
hora que havia chegado o Dia. Era tarde, o Prédio já estava a postos para cair
em pé. O Rio corria manso, na espreita de acolher qualquer cascalho que
sobrasse e assim o desejava, para poder guardar no fundo do seu leito e continuar
conversando com seu amigo, ou melhor, com o pedaço do seu amigo e, desta feita,
resolveu ficar ali, quieto, olhando sem fazer rumor.
Agora o destino emocionante
se cumpre após tantos e tantos anos e fica parecendo que a sustentação do
Prédio foi feita apenas da memória de quem fez parte da história inesquecivel
de uma indústria que por muitos anos foi referência na região, no Brasil e no
Mundo. Assim foi a caminhada no mesmo lugar do Prédio, com muitos dizendo que
era uma vergonha ali estar ainda de pé, conforme a Menina ouviu de uns e
outros, até de quem foi seu amigo e também de outrem que sequer conhecia. Então,
a luta nos últimos tempos não era somente no balança, mas não cai, mas na pauta
da polêmica, o non sense do pseudo amigo e o despudor do desconhecido. A
Menina depois do desabafo resolveu deixar para lá uma vez que estava dado o
recado.
Foi com muita aflição que O
Rio e A Menina acompanharam o quebra-quebra tendo ao lado O Prédio#Memória, que
muito orgulhoso de si e de sua história olhava para a destruição do parque
industrial. Muito inspirado falou por alguns minutos com seus amigos, alertando
que neste país com dimensões continentais o patrimônio é derrubado em cada
esquina como se a história não tivesse vez no mundo de hoje. Não só de hoje,
mas de há muito e assim vai ao chão o que conta o passado para erguer nada em
seu lugar ou na sequência.
A Menina, recomposta do
bafão da derrubada observa com cuidado a demolição e agora se vê muito
assustada porque ao invés de ouvir o som das pedras rolando escuta em alto e
bom som os diálogos das funcionárias da salsicharia trocando receita, dos
carregadores empurrando os grandes carros e descendo o elevador, falando de
futebol e de mais uma vitória do Renner, do bater das maquinas de escrever no
imenso escritório que reverberava a saúde da empresa. Do Sr. Gaspar chegando sempre
muito cedo, sentiu em sua pele o gelo da sala de computadores que naquela época
ocupava muitos metros quadrados e agora, sem nenhuma surpresa parecia ouvir o
toc-toc dos tamancos holandeses do Julio Alfredo ressoando nos andares da fábrica
e também viu a si própria secretariando as reuniões da CIPA.
E assim, um por um, foi
acontecendo o esvaziamento do Prédio em queda livre e a onda branca da cabeça
aos pés invadiu a Rua Ramiro Barcelos rumo ao coração de todos que fizeram
parte da história e que tem amor ao trabalho.