Ando pensando em que fiação me embrulhei uma vez que nos últimos tempos somente
aquelas tecidas para entrar no mar estão no meu foco, pois são elas que se
jogam com coragem mar adentro, buscando o alimento da galera que vive com os
pés na areia e olho no horizonte, perscrutando as ondas do oceano na
expectativa que aquele dia será o melhor e que com esta lua e neste horário de
sol a arrecadação da natureza lhe trará as melhores noticias, e assim, no final
do dia, todos comentarão como o trabalho deu certo, como a vida foi generosa.
De barriga cheia fica tudo mais fácil de aceitar e também de imaginar.
Gosto de pensar que de propósito esquecem que as redes trazem segredos à beira mar, uma vez que tudo vem por ali, chacoalhando suas águas de costa a costa misturando-se em areias e bichos, reluzindo o galope de cavalos marinhos enlevados na paixão com as sereias que não calam sua voz de intencional conquista.
Mas é do gosto também verificar que as postagens nas águas podem ser físicas, representando tantos dramas nas areias silenciosas e circunspectas, como aquele brinco solitário que pousou fundo no mar gelado de inverno, depois do incontido amor no areal, do chinelo aventureiro customizado de corações que perdeu a corrida na manhã luminosa e se foi para o fundão do oceano, deixando em um pé só quem lhe perseguia. Um pouco de horror faz parte, quando se tira da rede a cabeça do peixe que anuncia com olhos esbugalhados o relacionamento degolado e junto a ele, encostada, a barbatana pontuda avisando que a desfeita dói.
É dali que felizmente podem surgir mensagens
carinhosas fechadas em vidros antigos, podendo ser uma declaração de amor de um
tímido, ou a busca do amor inconfesso de alhures que de repente se encorajou e
tomou as ondas do mar como seu correio. Para se certificar, somente quebrando
quem o aprisionou e jogou longe, parecendo-me que se aberta a missiva, se
invalida a magia se não for a pessoa certa.
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