sábado, 8 de março de 2014

Caquinhos



Era um dia lindo, azul perfeito e eu não percebi uma nuvem escura bem a esquerda da minha janela, no horizonte. Que bobagem, quem ligaria para qualquer sinal em céu de brigadeiro, onde se ouve o som da calma em ventos outonais e se respira o perfume das folhas resvalando ao chão, se despedindo languidamente do amor que as manteve nas estações anteriores. A seiva que por ora se esvai com promessa de voltar.
Eu estava confiante e firme, lembro bem, com meu espírito elevado em elucubrações românticas com a feição de quem é amada e o único pensamento que borbulhava nas minhas antenas nesta manhã memorável, era a faceirice. O sorriso tenho certeza, ficou branco como cal de uma hora para outra, se alinhando ao tempo que se esbranquiçava lentamente, mandando para longe o vermelho do sol de verão. Ocorreu-me, naquele momento, certa inquietude, um arrepio e uma quentura fora do normal no corpo todo, mas eu estava afoita e certeira demais para me aguçar em insinuações mal formuladas.

Segui em passo firme com as convicções empoleiradas nos ombros, uma vez que elas não cabiam mais em nenhuma pasta que eu pudesse carregar.  Todas elas vinham com anotações várias, para que eu as mantivesse atualizadas e também de fácil acesso para esclarecer qualquer conversa. Certezas convencem.
De súbito, precisei sacar meu talento para fazer frente ao que se impunha, sacudi os ombros, corri em busca da agenda, escarafunchei minha bolsa e dei tratos à bola. Dei alguns passos e, desconfortável, percebi que tudo o que eu tinha estava no chão, partido em mil caquinhos multifacetados refletindo o mundo. Uma sucata pronta para se transformar.

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