Era um dia lindo, azul perfeito e eu não percebi
uma nuvem escura bem a esquerda da minha janela, no horizonte. Que bobagem,
quem ligaria para qualquer sinal em céu de brigadeiro, onde se ouve o som da
calma em ventos outonais e se respira o perfume das folhas resvalando ao chão,
se despedindo languidamente do amor que as manteve nas estações anteriores. A
seiva que por ora se esvai com promessa de voltar.
Eu estava confiante e firme, lembro bem, com meu
espírito elevado em elucubrações românticas com a feição de quem é amada e o
único pensamento que borbulhava nas minhas antenas nesta manhã memorável, era a
faceirice. O sorriso tenho certeza, ficou branco como cal de uma hora para
outra, se alinhando ao tempo que se esbranquiçava lentamente, mandando para
longe o vermelho do sol de verão. Ocorreu-me, naquele momento, certa
inquietude, um arrepio e uma quentura fora do normal no corpo todo, mas eu
estava afoita e certeira demais para me aguçar em insinuações mal formuladas.
Segui
em passo firme com as convicções empoleiradas nos ombros, uma vez que elas não
cabiam mais em nenhuma pasta que eu pudesse carregar. Todas elas
vinham com anotações várias, para que eu as mantivesse atualizadas e também de
fácil acesso para esclarecer qualquer conversa. Certezas convencem.
De súbito,
precisei sacar meu talento para fazer frente ao que se impunha, sacudi os
ombros, corri em busca da agenda, escarafunchei minha bolsa e dei tratos à
bola. Dei alguns passos e, desconfortável, percebi que tudo o que eu tinha
estava no chão, partido em mil caquinhos multifacetados refletindo o mundo. Uma
sucata pronta para se transformar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário