Acordei
naquele dia preparada em atender um chamado que eu não conseguia identificar.
Foi quando me deparei frente ao entulho que me olhava ameaçador e impulsionada
pela curiosidade vi-me inclinada a chafurdar em tudo o que se apresentava. Não
foi fácil abrir os assuntos e separar com consciência o que – ou quem – presta
ou não. Rodeei-me de lixeiras e porta-jóias imaginários para separar o joio do
trigo.
Já na primeira leva saltaram da caixa de pandora
risadas e correria o que me pareceu bem infantil porque só mesmo em criança
temos a leveza e a ânsia de correr para todo lado com tanta energia. O tempo
parecia brilhante e no ar calmo eu vi almoços nos jardins com toda a
assistência de folhas e flores no entorno caindo ou ameaçando se desdobrar por
cima de nós. A imagem se apagou rapidamente sem que eu pudesse lhe por as mãos.
Acho que foi um devaneio e devo estar febril.
Ao
invés de frio senti uma brisa cálida ao passar para a próxima leva que me
aguardava serena e, graciosamente, me convidava a entrar. Gostei da recepção e
foi ali que me deparei com as perdas enfileiradas uma a uma e todas muito
resignadas com o futuro que lhes foi destinado. Também me dei conta que o
sofrimento não fazia mais parte desta etapa porque com mais gentileza ainda fui
acompanhada até a saída e se fechou aquele portal. Na minha garupa, risada de
criança acompanhada por um olhar de azul transparente que me foi uma
companhia breve, porém definitiva.
Agora o
volume do assombro já havia se acalmado e restava um espaço enorme que
aparentemente estava aferrolhado e dele eu tive muito medo. Circulei um pouco
tentando imaginar quais segredos estariam tão bem guardados e tentei em voz
alta fazer uma decifração do que poderia ser. Minha impressão foi de que ali se
encontram os mal feitos de quem eu confiava, a ausência dos meus amores e
amados e a completa ignorância de e sobre mim. Com certa agonia e um pouco
cansada resolvi não abrir esta última fase e, assim cicatrizada, rumei para o
desconhecido.
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