domingo, 20 de janeiro de 2013

À deriva



 

Gosto de ser como o mar, uma massa à deriva dos meus pensamentos deixando minha vida seguir em ondas que às vezes podem ser mais volumosas e outras apenas marolas, chegando delicadamente na beira da praia. Muitas vezes, com vento ao contrário da maré, a espuma se enfuna numa brincadeira trágica, uma vez que a profundeza é mais forte e busca seus respingos de volta.

Bom demais ter uma cabeça barulhenta como o oceano, que indica vários desafios desde o começo do dia, não necessitando nenhum estímulo externo para se sentir bem, para saber o que fazer e pensar. Esta sensação de não estar presa é que me dá sustento para fincar meus objetivos de acordo com o tempo a meu serviço, resultando em certo mal estar em relação às invasões cotidianas de pessoas e de situações.

É com esta cachola cheia que me nutro para andar por aí, trocando idéia com o vento, seguindo o vôo dos pássaros, reconhecendo em cada esquina o buraco de ontem desviando somente no instinto. É com a minha mente liberta do algoz do compartilhamento – que para mim já é palavrão – que possuo todas as benesses de um dia de fazer nada e dias de muito fazer. Mas a insistência não pára.

Aquietar o corpo e o espírito devia ser regra para todos, uma vez que somente no encontro íntimo de cada um vamos nos conhecer.  Sem o duro embate com nossa própria alma não há como crescer.

Não tenho paz com tanta interferência invasiva.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Voando no tempo




Estou sempre com a situação na minha cabeça e, do nada, a figuração me aparece formatada em vários ângulos, e quando eu penso que chegou a hora de viajar no tempo sem levantar suspeitas, ela escorrega limosa numa seqüência de imagens coloridas. Muitas vezes no afã de me agarrar a uma, me escapam todas.

Toda esta empreitada é porque eu acredito que se pensar bastante, se fizer do meu coração um estojo e guardar cuidadosamente as lembranças, o eco será meu prêmio, uma vez que o universo se encarrega de fazer o leva e traz para o destino certo, conspirando para um tráfego em perfeita conexão.

Para esta viagem no tempo inventei a tecelagem de um tapete mágico, onde vou mediando os fios invisíveis da saudade, contando uma história em pequenos pacotes arrematados com os liames do tempo. Ali estão entrelaçados olhares e conversas sem nenhuma intenção aparente, os tantos encontros inesperados, a farsa de se jogar conversa fora e as muitas surpresas no caminho. Assim está formada a base sólida da alcatifa que se mantém à medida que a distância aproxima.

Entre uma trama e outra vou intercalando as letras e as músicas que expressam os anseios que não tiveram oportunidade de se concretizar junto aos sorrisos camuflados. Finalizando a peça ilusionista trancei uma grande franja com todas as palavras que foram escritas enganchadas umas nas outras em perfeita desordem, esperando serem decifradas.

Não se esqueça de mim.


Duas lágrimas

  O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a au...