domingo, 2 de dezembro de 2012

O sujeito

Sempre que ele me liga já sai gritando, bradando algumas palavras de ordem, em seguida debocha, reclama do sinal e depois pergunta onde estou, obviamente não escuta e finaliza dizendo a que veio esta ligação. Uma voz granulada e estridente que tem o  poder de me abstrair de onde estou, como  se fosse um foguete da Nasa me lançando ao cosmos, me tirando do fundo da cama, doente, simplesmente  amolada ou até morta. Também não importa para ele onde estou porque urge desgarrar-se do mico que lhe foi entregue a domicilio e pousá-lo em outros ombros. Desta vez, lançou o dardo ensandecido na minha omoplata.

O encontro do mim para consigo fica na casa do eu falo e eu respondo, ao mesmo tempo embaralhando as palavras ao colocar a vírgula onde é o ponto, a interrogação na resposta e a exclamação na pergunta. Uma pontuação entrevada uma vez que confunde todas as rimas entrelaçando expressões que vão da acusação ao elogio, em fracionados segundos milimetricamente calculados.
Meneia a cabeça, ajeita os óculos e continua com dedo em riste ditando a contra-ordem e eu ali, pasma, sem saber para que lado fugir. Fugir sim, porque com este conteúdo jorrado sobre o meu intelecto sequer consigo impelir para um filtro que possa destrinchar a proposta.

Depois do falatório a língua começa a soltar em outros certeiros brados vinculados a forma de execução, a estratégia e tudo o mais que não é da conta do decujo proponente.
Um pavão. Conversa de doido.

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