Sempre que ele me liga já sai gritando, bradando
algumas palavras de ordem, em seguida debocha, reclama do sinal e depois
pergunta onde estou, obviamente não escuta e finaliza dizendo a que veio
esta ligação. Uma voz granulada e estridente que tem o poder de me
abstrair de onde estou, como se fosse um foguete da Nasa me lançando
ao cosmos, me tirando do fundo da cama, doente, simplesmente amolada
ou até morta. Também não importa para ele onde estou porque urge desgarrar-se
do mico que lhe foi entregue a domicilio e pousá-lo em outros ombros. Desta
vez, lançou o dardo ensandecido na minha omoplata.
O
encontro do mim para consigo fica na casa do eu falo e eu respondo, ao mesmo
tempo embaralhando as palavras ao colocar a vírgula onde é o ponto, a
interrogação na resposta e a exclamação na pergunta. Uma pontuação entrevada
uma vez que confunde todas as rimas entrelaçando expressões que vão da acusação
ao elogio, em fracionados segundos milimetricamente calculados.
Meneia a cabeça, ajeita os óculos e continua com
dedo em riste ditando a contra-ordem e eu ali, pasma, sem saber para que lado
fugir. Fugir sim, porque com este conteúdo jorrado sobre o meu intelecto sequer
consigo impelir para um filtro que possa destrinchar a proposta.
Depois
do falatório a língua começa a soltar em outros certeiros brados vinculados a
forma de execução, a estratégia e tudo o mais que não é da conta do decujo
proponente.Um pavão. Conversa de doido.
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