Então, vão se mexendo para inventar o que mudar no alimento para que tenha bela figuração na mesa sem aquele personagem agregado que agora é vilão. Simples assim, por decreto, como se estivéssemos em uma república das antigas onde todas as ordens eram impostas. O sódio está condenado.
Fiquei então imaginando que estamos fadados a viver na doçura, flutuar em nuvens de chantilly, mergulhar em caldas macias e fartar nossa gulodice em doses catástróficas de chocolate. Mas, o delírio não se confirma, pois o açúcar também está condenado e execrado das
nossas mesas, sobrando o assunto para nossa imaginação.
Então, comida boa mesmo é aquele acepipe minúsculo acondicionado
no meio de uma folha de alface com um ramo de hortelã lhe seguindo as curvas,
suspeitas, porque de pronto, não se reconhece sua origem. A iguaria vem
salpicada de um vermelho açafrão rodeada por um fio tênue de qualquer coisa
viscosa agridoce que cola no céu da boca. O prato é sempre branco e enorme
causando impacto visual que imediatamente estabelece um diálogo com o estômago
mandando dizer que está saciado. Estratégia.
Pensando nisso fui para a cozinha fazer um tempero de
salada que eu inventei e resolvi levar um pouquinho para minha vizinha. Quando
abri a porta para levar o resultado da minha obra, ela estava com a mão no alto para
bater na minha porta, me levando uma
sobremesa, daquelas bem das antigas, igualzinha a que minha avó fazia.
Sintonias.
O sal da vida.