segunda-feira, 2 de junho de 2008

O homem da lata



Praia deserta nestes dias invernais com cheiro peculiar de marisco, de ressaca do mar cor de chocolate. E de repente, um homem sentado numa cadeirinha de praia na solidão da areia molhada e esquisita, de pés descalços no frio de 10 graus e ventinho gelado.

O que faz este homem debruçado ao chão recortando uma grande lata quadrada com um alicate e outras ferramentas bem masculinas...Passei ao largo cumprimentando o desconhecido com meio sorriso receoso, tentando entender o que ele queria com aquilo, neste local tão inusitado. Repassando, rodeando, indaguei o que fazia ele com aquela lata..recortando-a. A resposta foi evasiva, indireta, quase nada. Disse-me ele que estava Inventando algo para distrair e não podia fazer barulho no apartamento...

Legal, recortar lata na praia, com barulhinho para espantar mergulhões, garças e quero-queros...Afinal ! O silêncio não é para todos, assim como a solidão.

Para mim o silêncio é imperativo e ensurdecedor se é que dá para entender isso. Ao longe o rugir do mar e os meus pensamentos ora gritantes, ora calmos, ora sem eles, que às vezes é bem bom. Esquisita eu, esquisito o homem da lata...rodeando seu invento e fazendo barulho no silêncio,

Deixo para trás esta praia cor de chocolate com visual indescritível para quem só conhece a praia lotada de corpos bronzeados, guarda-sóis e cheirando a protetor solar. Esta paisagem é quase selvagem de tão solitária e mágica. E paro de pensar no homem que recorta lata na beira do mar...

3 comentários:

Unknown disse...

Verinha, parabéns!!! Sei do teu desejo de escrever, e o mais incrível , eu desconhecia este teu dom. Esta crônica tem a tua cara. Posso ver, na minha imaginação, todo o cenário que descreveste. Continua, Vera, continua, tens um mundo novo nas palavras.
Beijos
Inês

Unknown disse...

Ôi Verinha!
Puxa, legal, não conhecia este teu lado de escritora. Dizem que quem canta seus males espanta. Penso que isto vale também para as palavras. Elas nos auxiliam tanto a exorcizar demônios, quanto a poetizar sobre a vida. Beijo grande! Eliane

Ana Goelzer disse...

Vera,
Escrever se aprende escrevendo...tem frases lindas ali. Constroe teu estilo e segue em frente
bjs
Ana Ggoelzer

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